* esta aqui é direto do túnel do tempo… Texto escrito em 1926, por uma cidadã russa. Toda a semelhança não é mera coincidência…
“Os homens começaram a trocar de esposas com o mesmo zelo que eles tinham para consumir a recém liberada vodka de 40%.”
por uma mulher residente na Russia, publicado no dia 1º de julho de 1926, para a The Atlantic
A questão se o casamento como uma instituição deveria ser abolido está sendo debatido em toda a Rússia com uma violência e uma paixão jamais vistas desde os primórdios turbulentos da Revolução. No último Outubro uma lei foi proposta com a intenção de eliminar as distinções entre os casamentos registrados e não registrados, garantindo o status e os direitos de propriedade que a esposa legalmente casada tem, e tal medida está sendo debatida no Tzik, ou o Comitê Executivo Central. Como uma reação imprevista contra a medida se criou, o Tzik decidiu adiar sua adoção até a próxima sessão, enquanto se prepara para iniciar um grande debate popular sobre o projeto.
Desde deste tempo as fábricas, escritórios, clubes e diversas outras organizações e instituições soviéticas passaram resoluções contra e a favor da resolução, e as assembleias não estão dando conta de controlar as massas ansiosas pelos debates feitos nas cidades, bairros e vilas. É preciso viver o dia a dia da Rússia para sentir a atmosfera de tormento, desgosto e desilusão que dominaram as relações entre os sexos e o caos, a incerteza e a tragédia que ronda a família russa, para aí sim entender os motivos de uma discussão tão acalorada, por que tanta paixão na defesa de tanto quem apóia a medida quanto quem a rejeita.
Quando os bolcheviques tomaram o poder em 1917 eles consideravam a família, assim como todas as outras instituições “burguesas”, como algo a ser destruído, e se empenharam com fervor para isto. “Para limpar a família da poeira que se acumula a eras, temos que dar nela uma grande chacoalhada, e nós fizemos isto,” declarou Madame Smidovich, uma líder comunista e participante ativa nesta recente discussão. Então um dos primeiros decretos do governo soviético foi abolir o termo “filho ilegítimo”. Isto foi feito ao simplesmente igualar o status de todas as crianças, tanto aquelas nascidas dentro de um casamento ou fora dele, e agora o governo soviético se gaba que a Rússia é o único país onde não existe filhos ilegítimos. O pai de uma criança é forçado a contribuir para o seu sustento, geralmente pagando um terço do seu salário em caso de separação, desde que ela não tenha outros meios de se sustentar.
Ao mesmo tempo uma lei foi passada para que o divórcio fosse algo muito fácil de ser feito, algo que levaria minutos, e que poderia ser requerido por qualquer um dos dois membros do casal. O caos foi o resultado disto. Os homens começaram a trocar de esposas com o mesmo zelo que eles tinham para consumir a recém liberada vodka de 40%.
“Alguns homens tem 20 esposas, vivendo uma semana com uma, um mês com outra,” declarou uma mulher indignada durante uma das sessões no Tzik. “Eles tem filhos com todas elas, e tais crianças são jogadas na rua por falta de apoio! (há por volta de 300000 bezprizorni ou crianças de rua na Rússia atualmente, que literalmente infestam as ruas. Eles são um dos maiores perigos sociais do nosso tempo, já que eles estão se envolvendo com atividades criminosas. Mais da metade deles são viciados em drogas e promíscuos. Muitos comunistas já reconhecem que a quebra da família foi responsável pelo estado atual de grande parte dessas crianças.)
As vilas camponesas talvez são as que mais sofrem com esta revolução nas relações entre os sexos. Uma epidemia de casamentos e divórcios explodiu nas cidades do interior. Camponeses que tinham casamentos respeitáveis que já tinham mais de 40 anos de duração ou mais simplesmente decidiram largar suas esposas e casarem com outras mulheres. Os jovens camponeses enxergam o casamento como um excitante jogo e trocam de esposas com a mudança de estação. Não é algo incomum um jovem de 20 anos já ter tido 3 ou 4 esposas, ou para uma moça da mesma idade já ter feito uns 3 ou 4 abortos. Como os camponeses de Borisovo-Pokrovskoie atestam com pesar: “os abortos cobrem nossas vilas com a vergonha Antigamente nem existia abortos por aqui.” Mas as mulheres, em auto defesa, respondem: “falar é fácil. Mas se vocês tiverem que cuidar de filhos sozinha você iria mudar de discurso.”
Certa vez eu discuti o assunto dos divórcios frequentes com o presidente de uma vila soviética. “O que faz uma mulher se divorciar?” eu perguntei a ele. Logo depois uma jovem de 18 anos entrou na sala. “Ela é a nossa última divorciada,” disse o presidente dando risadas. “Pergunta para ela.” Eu me virei para perguntar, mas a jovem já tinha ido, e pela janela vi ela correndo o mais rápido que podia. Eu corri atrás dela e finalmente a alcancei, nos campos que ficavam fora da vila. Nós nos sentamos num monte de feno e eu pedi para conversar francamente com ela, de mulher para mulher.
Os olhos dela se encheram de lágrimas enquanto ela me falava que ainda amava seu marido, que tinha uns 19 anos, mas ela foi forçada a se divorciar apenas 2 meses depois de se casar. Ele agora acha que ama outra mulher da vila e ameaçou matá-la se ela não se separasse dele voluntariamente.
Eu lembro de outra vítima da destruição dos laços familiares nas vilas, uma mulher alta, pálida e calada, de origem cossaca. Ela se divorciou de seu marido depois que seu 3º filho nasceu. Então ele se casou com outra mulher, teve um filho com ela, abandonou os dois e retornou para sua antiga esposa, na qual teve mais um filho. A mulher era muito religiosa, e fica atormentada em saber que seu segundo filho é ilegítimo, mesmo com o padre local garantindo que este não era o caso, já que a Igreja não reconhece o divórcio.
Alguns abusos peculiares estão surgindo no interior do país que tem relação com as mudanças na regulação do casamento. Muitas mulheres levianas notaram que se casar e ter filhos pode ser algo lucrativo. Elas criam conexões com os filhos de camponeses mais abastados e então os chantageia seus pais para fazê-los pagar a pensão. Em alguns casos, teve camponeses que tiveram que vender sua última vaca ou cavalo para poder pagar tais suportes. A lei criou ainda mais confusão já que ela permite que a mulher possa pedir pensão de um filho nascido a anos atrás.
Outros camponeses tiram vantagem dessas leis frouxas de divórcio para adquirir “noivas de verão.” Como a contratação de mão de obra na Rússia é dificultada pelas leis e restrições vigentes, os camponeses mais ricos de alguns distritos se “casam” com jovens mais fortes para fazê-las colher a plantação da temporada e se separam delas assim que a colheita terminar.
As novas relações entre os sexos também criaram problemas nas cidades. Durante o inverno de 1924-1925 alguns dos comunistas mais velhos acusaram a nova geração, especialmente os estudantes, de se entregarem às frivolidades, de gastar sua vitalidade na promiscuidade; eles criticavam as estudantes de praticarem abortos frequentes. “Você deve se decidir entre ser uma estudante ou uma mãe; sob as condições atuais não tem como ser as duas,” declarou um dos mentores para as estudantes russas. As estudantes, de forma indignada, responderam que o sexo era praticamente o único divertimento barato que havia sobrado para elas e exigiam que elas também tivessem direitos a ter a mesma oportunidade de ter abortos gratuitos que as operárias tinham. Além disso, elas retrucaram que nem todos os comunistas antigos eram exemplo de boa conduta.
Alguns membros da Liga da Juventude Comunista, uma organização que tem por volta de um milhão e meio a dois milhões de membros, consideram que a recusa de entrar em relacionamentos sexuais casuais era mero preconceito burguês, um pecado mortal aos olhos de um comunista. Algumas das filiais regionais desta organização chegaram ao ponto de criarem círculos que promoviam a “queda da vergonha” ou a “queda da inocência”; mais tais coisas foram condenadas como aberrações no relatório oficial das atividades da Liga no último congresso do partido comunista.
Tanto nas vilas quanto nas cidades o problema das mães solteiras se tornaram agudos e oferecem um teste rigoroso e incômodo às teorias comunistas. Nos primeiros estágios da Revolução, os comunistas criaram a teoria que as crianças deveriam ser cuidadas pelo Estado. Mas rapidamente ficou claro que o Estado, especialmente num país devastado pela guerra e pela fome que era a Rússia, não tinha capacidade para assumir tal responsabilidade. A imagem das milhares de crianças abandonadas, relatadas por 32 províncias da União Soviética durante um período de seis meses, ilustrou o perigo que o atual grande número de crianças de rua pode só aumentar por causa da incapacidade ou falta de vontade dos pais em criarem filhos nascidos de um relacionamento casual.
A sessão do Tzik que iria discutir a abolição do casamento como instituição no último outono foi realizada na famosa sala do trono do Czar, em um dos palácios do Kremlin. As paredes douradas do palácio estão intocadas, mas o trono foi trocado por uma simples estrutura de madeira que servia de plataforma. Aqui era onde mulheres de rostos redondos usando seus lenços vermelhos na cabeça, operários em seus jalecos e comissários usando botas de cano comprido se misturavam democraticamente para debater com ardor a questão.
A proposta foi introduzida pelo Comissário de Justiça, o sr. Kursky, um homem grandalhão com grandes bigodes loiros. Ele mostrou aonde, segundas as antigas leis, a esposa não tinha nenhum direito no caso de um casamento não registrado, a lei proposta daria a ela os direitos de uma esposa legal no que concerne ao direito de propriedade e em outros assuntos. Outro ponto a ser adicionado era que a esposa e o marido deveriam ter direitos iguais em pedir auxílio financeiro ao outro, caso estejam desempregados ou incapacitados de trabalhar. A mulher poderia ter o direito de exigir o suporte financeiro para seus filhos mesmo se ela se envolveu com diversos homens durante a concepção; mas, em contrate com as antigas práticas, ela ou a corte deveria escolher um homem que seria responsabilizado pelo pagamento da pensão. O comissário Kursky pareceu especialmente orgulhoso com este ponto já que ele diferia muitos dos “costumes burgueses” da Europa e da América. Em tais países, ele dizia, o marido poderia trazer em juízo um amigo que poderia alegar que também se relacionou com a mulher, e assim deixá-la indefesa. Nsa vilas, onde alguns continuam viver com seus pais mesmo depois de casados, a família inteira poderia ser responsável a pagar pensão caso a mulher assim solicitasse, de acordo com a redação original da lei proposta.
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fonte: http://www.theatlantic.com/magazine/archive/1926/07/the-russian-effort-to-abolish-marriage
7 comentários
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Pedro, creio que essa é a idéia, se os homens não tiverem filhos ou não souberem quem é o pai dos meninos eles tendem a não criar laços especiais com eles e não irão se importarão em lhe deixar uma herança ou legado.
Um dos objetivos do casamento é garantir a maior quantidade de recursos e informações pra sua cria, para que ela tenha mais condições de crescer e criar os filhos dela da melhor forma possivel, e assim por diante.
Se você não tem vinculo com um filho e o estado assume seu papel de pai de “guiar e educar” ele sera apenas gado do estado.
Teve uma lider comunista que queria acabar TOTALMENTE com o casamento, os russos iriam ficar que nem tribo da amazonia onde ng sabe quem é o pai de quem….
E a história se repete…
Mas dessa vez de propósito, eles querem fazer isso com a civilização ocidental, viram que deu merda no pais deles. Enquanto isso hj em dia a russia é hiper conservadora
Mais uma que corrobora o que a Real tem falado: viram esta notícia? Segue também a fonte primária da notícia. Note-se que a pesquisa inclusive tomou o cuidado de levar em conta os pênis flácidos (uma vez que quando eretos a diferença de tamanho entre eles tende a diminuir).
Esse texto reflete uma antiga opinião minha sobre o comunismo. Na impossibilidade de se progredir financeiramente, os homens se entregam à promiscuidade e à devassidão sexual porque somente isso (além de entrar para o partidão) lhes garantirá status social e proporcionará um sentimento de conquista, de desafio.
Quando todos são igualmente pobres, os destacados se resumem aos cafajestes, aos que têm muitas mulheres. Ao contrário do que ocorre no capitalismo, onde um homem pode se destacar pela acumulação de bens materiais.
E a história se repete…
1926!!!! Putz!
Quem não aprende com a história está fadada a repeti-la. Incrível como o texto parece uma descrição dos dias atuais. Tenso.