Considerações a respeito da “Matrix”

por Médici

Maquiavel sabiamente já disse em outra circunstância: “De fato o modo como vivemos é tão diferente daquele como deveríamos viver, que quem despreza o que se faz e se atém ao que deveria ser feito aprenderá a maneira de se arruinar, não a de defender-se.”

Pois bem, com isso há de ser dito que denota falta de sensatez acreditar que haja algo real no que é definido como “A Matrix”, somente porque tal ideia suscita algo de agradável à pessoa em questão e a torna feliz dessa maneira, desconsiderando todas as evidências que, por si só, anulam a possibilidade real da existência dessa Matrix, onde a mesma pessoa se mostra tola, infantil e covarde, por se esquivar da dura realidade, por mais penosa que ela seja, e resolve se apegar a uma crença ilusória e falsamente esperançosa, somente porque isso o torna mais feliz, onde tal felicidade gerada dessa forma faz com que ele associe tudo isso como uma “verdade”.

É sabido que a crença cega na bondade do gênero humano contribui mais para a felicidade de uma pessoa, do que a observação psicológica, benéfica em determinados casos, desse mesmo gênero. E isso também se aplica à “sociedade das mulheres”. E devido à natureza mesquinha, egoísta e dissimulada dos seres humanos, que não encontram escrúpulos para destruir e aniquilar seu semelhante, se assim lhe convier, é tremenda falta de senso achar que as mulheres são seres angelicais, dispostas a te conceder todo o amor do mundo, como se elas fossem desprovidas dessa tendência mesquinha tão conhecida do ser humano, como se fossem uma entidade superior. 

Mas isso é natural devido à idolatria sustentada há tempos com relação ao gênero feminino, colocando as mulheres no patamar mais elevado do gênero humano, onde isso fatalmente acaba cegando os homens para os atos mais mesquinhos, hipócritas e desprezíveis da parte delas, e qualquer um que acabe desnudando o véu que encobre o que há de mais nefasto nelas fatalmente acaba sendo depreciado e difamado no mais baixo grau, sendo rotulado como “homossexual”, “mal amado”, “frustrado”, “ressentido”, dentre outras adjetivações semelhantes, como se as mulheres estivessem além do bem e do mal, intocáveis e alheias a qualquer crítica à sua conduta, mesmo que ela seja evidentemente desprezível, onde ela utiliza de toda uma mascarada para dar toda boa consciência a toda sua hipocrisia, mascaradas e atos mesquinhos.

Quanto a tais aspectos femininos a que tanto me refiro, muitos devem estar perguntando quais são. Pois bem, de forma geral, as mulheres no geral preferem um tipo rude, viril, dominador, indômito, que seja “seguro de si”, não se deixe envolver na relação, assim como não se entregar na mesma, e que não assuma fraqueza e nunca sensibilize com relação a si próprio, de modo que ela espera que o infeliz seja tal qual uma máquina ou uma espécie de super-homem (não aquele babaca de capa azul, mas sim um tipo perfeito que na realidade não existe), onde tal visão é condicionada por um sentimento moral, consolidado em muito pela patética visão romântica do herói perfeito sem fraquezas, que a fez idealizar tal tipo para si como o seu “homem de verdade”, de modo que um homem com ego real, que assuma o que há de mais humano, com suas fraquezas, medos e angústias, acaba sendo visto como um rascunho ou uma imperfeição desse tipo do ideal “homem”.

Caso um homem demonstre tais tendências, e de quebra ainda demonstre ser sensível, afetivo, carinhoso e tudo mais (os quais são rotulados como os “bonzinhos”), acaba dessa forma gerando na mulher um sentimento de repulsa e acerbo desprezo com relação a ele, de modo que este acaba sendo visto por ela tal qual um verme desprezível, onde ela o encara como alguém encararia um enfermo repulsivo, ou seja, com profundo nojo e repulsa, de modo que ela o colocaria no ponto mais baixo e depreciativo possível, se ela não visse em tal tipo um amiguinho assexuado em potencial, que pode lhe ser útil na medida em que ele pode consolá-la quando esta é sacaneada pelo cafajeste em questão com quem se relaciona, para compensar seu ego destroçado dessa forma. Mas, assim que isso se consolida, ela logo o coloca num ponto de indiferença, e novamente se entrega ao cafajeste que tanto a humilhou e destratou. Uma forma bastante nefasta de se utilizar da bondade desse tipo de homem, eu diria. 

No tocante à apreciação delas pelos “cafajestes”, isso é bem natural e bastante evidente de se notar: elas o apreciam não por ele agir como tal, mas sim, por ele assumir o aspecto do “homem de verdade”, mediante a uma dissimulação feita de sua parte, fazendo com que seja tido como desejável pela mulher em questão dessa forma.

Mas é sabido que os cafajestes somente são “fortes” por pouco se importarem com a mulher, onde a finalidade deles unicamente é satisfazer sua
concupiscência e nada mais, pouco importando ser ou não largado por ela, pois sempre acabará partindo para outra, tal qual um parasita sempre procura um hospedeiro. Mas, no caso, é mais fácil ele largá-la, e, após a má consequência disso, a mulher fica chorando as pitangas e generalizando os homens, dizendo que “todos não prestam”, dentre outros alaridos cretinos do mesmo tipo, como se os ditos “bonzinhos” não existissem. A não ser que elas não considerem os “bonzinhos” como homens de fato, o que é bem provável.

Concluindo, se o cara realmente gosta da mulher em questão, ele não demonstra ser tão “seguro” quanto esses cafajestes, pois quem se apaixona acaba se perdendo de si muito facilmente e se deixa envolver na relação de tal modo, a ponto de manifestar intensamente seus sentimentos e assumir suas fraquezas sem qualquer receio, onde, de tal forma, não demonstra tanta “segurança” conforme ela supunha na sua pretensão cretina. As mulheres podem até querer se envolver com um tipo “seguro de si”, mas que não venham se queixar de serem sacaneadas por ele depois, feito crianças arrependidas, que tocam aquilo que lhes fere, mesmo sabendo disso antes de fazê-lo. 

Retomando o enfoque com relação à Matrix, pode-se dizer que não é conveniente se apegar a acreditar na efetividade dela, a julgar as inúmeras
evidências que provam o quanto há de ilusório, capcioso e mendaz em toda sua concepção, o que acaba sendo uma espécie de veneno muito perigoso para os mais incautos. É preferível se ater à verdade, por mais penosa que seja, ao invés de se deixar levar por crenças e ilusões fantasiosas, somente porque elas o fazem feliz de algum modo. Poderia haver a possibilidade de se sentir feliz, mais leve e esperançoso com tais concepções, onde desfrutaria de tudo isso com todo o deleite possível, mesmo que somente de forma abstrata, como um mero devaneio da consciência, condicionado pelos seus sentimentos dessa maneira.

Mas, à medida que se despreza tal realidade que há por detrás disso tudo, fatalmente ela o afeta de modo bastante brutal, e aquele que se entrega a tais concepções e a desconsiderasse acabaria por se aniquilar por completo, onde o indivíduo em questão poderia correr o risco de não ter forças para se reerguer, visto o quanto isso acaba destruindo com o âmago da pessoa.

Portanto, é mais conveniente se educar para a verdade por detrás disso, por mais penosa, dura e angustiante que ela possa vir a ser, pois assim acaba se adquirindo experiência e conhecimento suficiente para se precaver das suas más consequências, assim superando-as, de maneira que o impacto delas acabasse sendo amortecido dessa forma, ou até mesmo evitando as mesmas, o que lhes pouparia de toda espécie de sofrimentos desnecessários nesse sentido.

Não que não haja exceções, pois creio eu que em todo meio sempre há as ditas “anomalias” que não se enquadram na chamada ordem estabelecida no mesmo. Com relação às mulheres, creio que isso acabe chegando a cerca de 1%, numa estimativa bastante otimista.

No mais, a necessidade de um amor é algo que pouco deveriam se importar, e vejo que falta a muitos aqui chegar a um estado sublime de desprezar serem desprezados, pois, do contrário, não sofreriam tanto. Posso dizer que hoje em dia me situo nesse estado, me sendo pouco relevante viver um amor ou não, de modo que não perco meu tempo me afundando em tais crenças ou ideais. Pode até ser que exista alguma que seja uma exceção a toda essa regra e que possa vir a se interessar por minha pessoa, mas, nesse caso, ela que se vire e mostre a mim seu valor, pois obviamente não irei atrás disso. A verdade é que muitos acabaram se apegando a essa concepção de que necessitam viver um amor para se sentirem realizados, e quem se habituou a tais concepções não deseja uma vida sem elas, pois do contrário acabam se sentindo vazios e sem importância. 

Um erro funesto, eu diria. Mas nada que uma habituação dura e uma educação rigorosa na solidão não façam para que o indivíduo possa se libertar de tal concepção, e se tornar independente de fato. Logicamente que é necessário uma força emocional fora do comum para tal, afim de não perecer para sempre. 

Neste ponto faço minhas as palavras de Nietzsche: “Independência é algo para bem poucos – é prerrogativa dos fortes”.

Logicamente que em um ou outro momento é natural ceder a um impulso sentimental, o qual é coagido pela chamada moral amorosa, a que fora imposto tão arduamente em nossa sociedade, onde os sentimentos morais que disso procedem acabam criando tal ordem de sentimentos, de modo que impele a cada qual a querer alguém, pois ninguém consegue ser forte o tempo todo, a ponto de conter tal impulso nefasto. Somente mulheres cretinas que se apegam à figura do “homem de verdade” acreditam nisso, que haja de fato um homem que seja indômito e forte constantemente. Mas, desde que se tenha força interior, atitude de coragem e determinação, isso pode facilmente se desvanecer, de modo que acaba sendo como um acesso de febre, que logo passa. 

Creio ser suficiente.

Complemento:

Reitero o que o Médici disse com essa outra frase de Nietzsche:

“Quando se amarra bem o próprio coração e se faz dele um prisioneiro, pode-se permitir ao próprio espírito muitas liberdades.”

De fato, a razão deve ser soberana sobre as emoções. Só assim pode-se evitar a cegueira dos sentimentos e das idealizações.

Este texto faz parte do projeto: Segunda das Relíquias Perdidas.

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