por W. F. Price, do The-Spearhead.com
Aproveitando minha folga, estive lendo livros sobre a União Soviética – seu sistema carcerário em particular. Eu peguei para ler a obra de Aleksander Solzhenitsyn, Arquipélago Gulag, e estou gostando muito da leitura. O livro é pesado, mas Solzhenitsyn consegue por um pouco de senso de humor num livro bastante depressivo. Muito do humor vem do absurdo da política soviética e as muitas falhas das pessoas que o implementavam.
O livro é um exemplo real de uma distopia Orwelliana, mas ele difere em aspectos chave do livro 1984. Primeiramente, o partido é caracterizado por membros compostos por brutamontes e bandidos do que por um bando de tecnocratas brutalmente eficientes. Ao invés de tecnocratas inteligentes e devotados à causa como o O’Brien de 1984, a NKVD soviética (predecessora da KGB) tinha interrogadores gananciosos e brutos que estavam apenas tentando manter seus privilégios na organização e encher seus bolsos com o menor esforço possível. Infelizmente para os prisioneiros soviétivos, a forma mais fácil da NKVD conseguir isso era obtendo confissões de qualquer forma possível. Para prisioneiros mais resistentes – principalmente aqueles que insistiam em sua inocência – a tortura era lei.
Em segundo lugar, mesmo que as confissões eram usadas de forma entusiasta por Stalin e seus asseclas para fins políticos, o verdadeiro prêmio era o trabalho escravo. Sim, muitos eram mortos no ato, mas a grande maioria serviu em campos de trabalho forçado nas vastidões da Eurásia. Infelizmente, apenas poucos jovens americanos estão a par que a escravidão era uma das características principais até metade do século XX. Os nazistas e os japoneses fizeram grande uso do trabalho escravo durante a Segunda Guerra, mas Stalin bota eles no bolso. Stalin foi, para todos os efeitos, o sucessor dos déspotas asiáticos que comandaram a Rússia de tempos em tempos desde a era dos Hunos. Ele reinou sobre um império de escravos que ia do Báltico até o Pacífico, do Oceano Ártico até a orla do Mar Cáspio. Gengis Khan ficaria impressionado.
O que é mais deprimente no livro é que o leitor nota que um estado totalitário como esse não precisa ser criado por uma mente criminosa genial, mas pode ser formado apenas tendo base os instintos humanos mais básicos, como a ganância, o ressentimento e a ambição pelo poder. Seguindo a Revolução Bolchevique, a Rússia estava aos pedaços. Durante o caos da década de 1920, um tipo de gangsterismo prevalesceu, o que resultou na ascensão de Stalin ao poder (não que Lenin seja melhor que ele). O líder dos gangsters começou então a expandir seu estilo por todo o Império, sendo ajudado entusiasmadamente por exércitos de bandidos que eram muito bem pagos para brutalizar seu próprio povo.
Solzhenitsyn detalha bem o nascimento das cortes e do sistema de justiça soviético. Seguindo a Revolução, passados pouco mais de uma década a justiça era inteiramente submissa ao partido e seus organismos, e praticamente deixou de existir. Levou um tempo para preparar os detalhes, mas na década de 1930 o sistema penal soviético virou uma indústria, e era mantido em funcionamento às expensas de outros setores. Mesmo com pessoas morrendo de fome ao milhões nas piores fomes da história da Rússia (e da Ucrânia), as prisões continuavam a ser bem servidas.
O constante martírio da população, com pessoas sendo retiradas à força dos locais onde moravam, sendo deportados, presos e exilados para a Sibéria foi um fator fundamental para as primeiras conquistas nazistas na Rússia na Operação Barbarossa, em 1941. Sem o massivo suporte material americano na forma de caminhões, locomotivas, comida, carros de combate, aviões e imensos carregamentos de aço, explosivos e munição – mais de 16 toneladas no total – Stalin provavelmente não teria segurando a ofensiva. Ironicamente, alguns dos centenas de milhares de caminhões (na maioria Studebakers e Fords) que mandamos para a URSS foram usados pela NKVD como “camburões” para transportar prisioneiros. Os Studebakers também ficaram famosos por serem usados como plataforma para os lançadores de foguetes “Katyushas”, no qual o Exército Vermelho usou com grande efetividade em suas batalhas.
É claro, quando você abusa o povo da forma que Stalin fez, isto não sai de graça. Uma história pouco conhecida da 2ª Guerra envolve os milhares de russos – russos étnicos, nada mais – que se voluntariaram para lutar pelos Nazistas, mesmo sendo tratados como cães nos campos de prisioneiros alemães, o que sugere que Stalin os tratava ainda pior do que isto (e na verdade tratava – depois da guerra, os prisioneiros de guerra russos geralmente eram mandados para trabalharem até a morte na Sibéria, pelo crime de terem sido prisioneiros). Se não fosse pela mentalidade e ideologias muito limitadas do nazismo, talvez a Alemanha teria derrubado Stalin usando de suas próprias falhas.
A União Soviética de Stalin nos serve como exemplo da depravação que os governos podem se afundar, e como é um exemplo real, ele é muito mais perturbador do que o livro 1984 pode ser. Isto sempre deve nos lembrar que devemos nos manter atentos para prevenir que algo semelhante – não importa o quão limitado seja – se desenvolva em nossa sociedade, mas infelizmente tal lição foi esquecida por muitos.
E como podemos saber que ela foi esquecida? Porque muitas pessoas por aqui estão usando os métodos que os primeiros comunistas usaram. O comunismo veio usando a desculpa de “promover a igualdade”, o que é antiética sob o princípio da liberdade. Se todos somos iguais, não podemos ser livres, porque as escolhas individuais acabam em resultados diferentes. Isto é um conflito direto com ao direito comum inglês, que foi baseado no princípio de proteger a liberdade (ex: os direitos de propriedade) ao invés da igualdade (redistribuição).
As feministas de segunda geração foram diretamente influenciadas pela teoria comunista, e foram estas feministas que escreveram e implementaram as atuais leis de família americanas, que começaram a entrar em vigor na década de 1980. A “Violence Against Women Act” (NT: Lei Maria da Penha americana) foi fortemente influenciada por feministas marxistas (ao contrário das alegações fraudulentas de autoria do senador Joe Biden), que tem pouca consideração pelos conceitos do processo devido, direitos do acusado, e muitos outros. Na verdade, se você analisar com atenção a forma que a lei de família opera, ela parece muito com as leis soviéticas. Não é uma lei criminal ou civil, mas um híbrido bizarro que tem como objetivo “nivelar o campo”. Assim sendo, o homem é o substituto do “inimigo de classe” dos comunistas – capitalistas, burgueses, aristocratas, etc.
A culpa não precisa ser provada substancialmente para um homem perder seus bens, crianças podem ser usadas como reféns, a detenção sem julgamento é frequentemente empregada e uma simples acusação é suficiente para tirar um homem de sua casa. Em muitos casos, a pensão alimentícia acaba se tornando uma dívida eterna (uma forma de escravidão). Tudo isso é justificado porque as mulheres são vistas como a classe oprimida, e os esforços para corrigir isto não podem ser atrapalhados por noções “reacionárias” (David Frutrelle, um feminista famoso, sempre usa este termo – o que só mostra a sua verdadeira face) como o processo devido, um julgamento feito com um júri e a presunção da inocência.
O paralelo mais perturbador que pode ser traçado, entretanto, é a histeria do estupro que se desenvolve nas faculdades americanas. De alguns anos para cá, as universidades estão criando verdadeiros tribunais de assédio sexual com apoio do Departamento de Educação dos EUA, que usa o Title IX como alavanca para forçar a complacência. Tais tribunais tem como antepassados das antigas troikas da Cheka (antecessora da NKVD) que eram usadas para aplicar penas extra judiciais, como execuções sumárias ou a prisão. Assim sendo, esses tribunais universitários foram criados com o mesmo propósito. Lendo sobre eles, se tem a impressão que Russlyn Ali, que é a responsável pela criação dos “novos padrões”, deve ter se inspirado ao ler livros sobre Genrikh Yagoda ou outro sadista responsável em implantar a loucura stalinista.
Os novos padrões de Ali, conhecidos como “preponderância da evidência”, é uma farsa e se traveste de justiça. Qualquer patife ou mentiroso pode alegar a “preponderância da evidência” em qualquer caso que ele ou ela quiser. O que essa “preponderância da evidência” leva em consideração é apenas as opiniões, políticas ou apenas preferências, e que homem seria louco o suficiente para confiar que uma troika universitária seria imparcial?
Christina Hoff Summers faz um relatório sobre o caso:
“Nós iremos usar todas as ferramentas disponíveis, incluindo… retee verbas federais… para garantir que a mulher esteja livre da violência sexual,” Ali disse a NPR no ano passado. Uma dessas ferramentas é o padrão de prova que os comitês disciplinares universitários usarão quando determinarão a culpa. Muitas universidades usam os padrões “além da dúvida razoável” ou a “clara e convincente”. (Traduzindo, “além da dúvida razoável” requer 98% de certeza da culpa; a “clara e convincente”, uma certeza de 80%.) Ali, entretanto, ordena que todas as universidades adotem a bem menos confiável “preponderância da evidência”. Usando tal padrão, um réu pode ser considerado culpado se os membros do comitê disciplinar acreditarem que há uma chance um pouco maior que 50% que ele tenha cometido o crime. tal padrão fará com que se torne bem mais fácil para os comitês a julgar, condenar e punir um estudante acusado (geralmente homens).
(…)
Como Ali e seus advogados no Departamento de Educação conseguiram achar no Title IX, estatuto que rege a igualdade entre os sexos, base para impor que os colégios adotarem o padrão da “preponderância da evidência”? Isto é um mistério. Hans Bader, um ex advogado do Departamento de Educação, diz que nada no Title IX justifica que um acusado tenha que firmar uma presunção de inocência, requerindo uma evidência clara e convincente. Ali e seus colegas, ele sugere, estão “legislando por decreto, de uma forma completamente arbitrária.” E perigosa, diga-se.
Podemos ser tentados a achar que isto não passa de uma mera bobagem, mas mesmo pego no contexto da coisa é algo assustador. Mesmo que por enquanto ainda não se esteja executando pessoas, a detenção não é algo difícil de se imaginar, especialmente quando nós temos pessoas na administração federal que demandam que as universidades implementem punições extra judiciais e que usem troikas que lembram muito as criadas pela Cheka dos bolcheviques. Que o atual governo está tentando antecipar investigações e julgamentos em tribunais estaduais é outra questão aqui, e pode muito bem ser uma violação da Constituição.
Os EUA podem não ser a distopia infernal totalitária que era a URSS em seus primórdios, mas não há porque permitir qualquer parte de nossa sociedade se pareça com ela. Seja dentro da família ou nas universidades, os padrões de “justiça” bolcheviques devem ser rechaçados firmemente antes que eles se alastrem por outras instituições. Finalmente as feministas devem ser chamadas pelo que elas realmente são ao invés de receberem proteção política e midiática. Elas são, literalmente, tiranas que usarão qualquer método disponível para poder cumprir suas metas. Enquanto eu lia o Arquipélago Gulag, eu vi muitas coisas que são semelhantes ao que temos hoje. Parece que nós americanos carregamos lá no fundo o germe do totalitarismo, e temos que ficar de olho e arrancá-lo assim que ele começar a aflorar.
fonte: http://www.the-spearhead.com/2013/01/09/our-own-little-bolsheviks/
6 comentários
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A semente do totalitarismo está intrinsecamente dentro de TODOS os seres humanos.
O diferencial da democracia é que ela reconhece esse fato e seus mecanismos visam evitar que essa semente germine.
Porém, os esquerdistas consideram-se livres das limitações e imperfeições humanas e por isso acreditam que estes mecanismos só atrapalham o progresso e devem ser removidos.
* * *
“Se todos somos iguais, não podemos ser livres, porque as escolhas individuais acabam em resultados diferentes”.
Frase lapidar! E o que os esquerdistas, como bons fracassados e vagabundos que são, não aceitam que alguém se destaque, seja melhor naquilo que faz e progrida pelo próprio esforço e mérito.
Quanto ao tema do texto, tenho a impressão que será muito difícil reverter essa “sovietização” dos EUA. E quem vai pagar o preço, tanto lá quanto aqui na AL, são as gerações futuras.
Eu entendi que nos estados unidos uma pessoa do sexo masculino é acusado por outra do sexo feminino de assédio. Essa mesma pessoa não tem o direito de se defender? É isso?
Autor
Nas universidades, aparentemente não.
Na justiça até pode, mas até ele provar q não fez nada ele vai ter q aguentar mta merda.
Exatamente, Wilkson. Por mais estranho, é o que provavelmente vai acontecer com qualquer homem que seja apenas acusado de assédio, sem provas, sem julgamento, sem nada. Você é culpado e tem o direito de permanecer calado.
“… não aceitam que alguém se destaque, seja melhor naquilo que faz e progrida pelo próprio esforço e mérito.”
Essa parte me lembrou a Revolta de Atlas de Ayn Rand, onde mostra uma sociedade que é governada pelo sistemas coitadismo, onde pessoas que não produzem recebem e os que produzem tem que trabalhar mais para sustentar todo o sistema. Esse livro é bem interessante em relação a estados utópicos como 1984. Recomendo, irão perceber que o Brasil tem uma semelhança no modo de governar