Rambo: o arquétipo da alienação masculina

por Rookh Kshatriya

No primeiro filme do Rambo nós vemos como a sociedade anglo americana (NT: e de certa forma, de boa parte do Ocidente) se relaciona com um homem – especialmente os da classe trabalhadora. Nas primeiras cenas, o veterano do Vietnã John Rambo é visto se aproximando de uma pequena cidade.

De cara, o xerife da cidade fez questão de mostrar que ele não era bem vindo. Depois, foi preso e torturado sem razão aparente e, após uma fuga épica, foi caçado pelas autoridades feito um bicho.

Se tais temas fossem mera fantasia, eles não iriam tocar tão fundo como fizeram. Em todo o mundo anglo americano, John Rambo se tornou instantâneamente um arquétipo do homem trabalhador e que não tem valor para a sociedade. Mesmo expressando uma experiência americana, o impacto que Rambo provoca é universal.

Rambo imediatamente se torna um ícone mitopoético da cultura anglo americana porque ele resume a experiência de um homem neste mundo pós feminista. A sua rejeição pela sociedade expressa a vilificação que homem atual sofre. Rambo é um herói de guerra caído: alguém que se sacrificou quando seu valor foi necessário, e então imediatamente descartado e vilificado quando sua utilidade imediata foi usada. Esta síndrome do “burro de carga redundante” caracteriza as atitudes das sociedades perante o homem em geral. Não desejável nos tempos normais, homens são apenas tolerados como um mal necessário para mantê-los ali sempre a mão como bucha de canhão. Além disso, o desprezo e até mesmo o ódio voltado a Rambo pelas instituições sociais de autoridade (as cortes, a polícia e os políticos) ilustra perfeitamente as atitudes perante o homem atual.

Os eventos passados em Rambo coincidem com o Massacre de Hungerford no Reino Unido, onde um homem desprezado sexualmente, socialmente e economicamente chamado Michael Ryan perambulou pelas ruas de uma vila inglesa, matando 16 pessoas a tiros antes de se matar com um tiro na cabeça em frente ao colégio que ele estudou quando garoto.

Como era de se esperar, a mídia e psicólogos tentaram atribuir a culpa do massacre ao filme Rambo. Entretanto, é muito mais plausível que o filme proveu foi uma imagem de identificação do que já se passava na mente perturbada de Ryan, legitimando suas insatisfações e facilitando qualquer inibição para sua explosão violenta. Toda a discussão se manteve no que se passava na mente dele, mas omitiam todos os fatores criados por uma era pós feminista que poderiam levar a um homem trabalhador comum a tal comportamento: desvalorização sexual: exclusão econômica, vilificação constante na midia, discriminação perante a lei. Tais temas são abordados em Rambo, o que explica a força e ressonância que tal personagem tem.

É falacioso considerar um mito como uma construção social morta e ossificada. Narrativas míticas vivem emergindo do vínculo cultural. Na verdade, nossa era atual pode ser considerada rica em mitos, desde que a mídia e a internet são conceitos onipresentes onde símbolos e narrativas colidem com uma fecundidade sem precedentes. Vivemos numa cultura abundante de riquezas lendárias. E John Rambo é um dos aquétipos mais ressonantes que emergiram nesses anos recentes: sua condição ilumina a “crise masculina” que aflige atualmente os homens ocidentais.

fonte: http://kshatriya-anglobitch.blogspot.com.br/2009/02/rambo-pan-anglosphere-archetype-of-male.html

5 comentários

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  1. Perto de GENILDO, de São Gonçalo do Amarante/RN, esse rapaz da Inglaterra era fichinha.

    Digita “SANGUE DE BARRO” no Youtube e pegue a pipoca.

    • wolverine-mt em 06/23/2012 às 16:43
    • Responder

    A desvalorização econômica é muito mais perniciosa para o homem, porque ela se converte em desvalorização sexual. O homem que não tem acesso a parceiras é uma bomba-relógio. Depois, quando um deles sai matando por aí, a culpa é da “sociedade machista”…

  2. A intenção principal do autor era retratar a rejeição da Guerra do Vietnã pela parte esquerdista da sociedade dos EUA. Vemos o Rambo voltando da guerra (para onde ele foi forçado a ir) e sendo hostilizado, não encontrando nenhum lugar onde pudesse se encaixar.

    Por outro lado, também vemos o lado ruim dos “rednecks” conservadores dos EUA, extremamente bairristas, que causaram todo o problema do filme ao despertar a neurose de guerra do Rambo. É o que pode acontecer quando alguém “mexe com quem está quieto”. No caso do Rambo — e dos crimes cometidos por homens que, igualmente, não se encaixam em lugar nenhum — deu merda.

    Os filmes do Stallone e do Schwarzenegger na década de 80, bem como a série do Esquadrão Classe A, foram um resgate dos valores tipicamente masculinos, que tinham ficado em segundo plano na época dos hippies e do flower power. Foi com eles que o interesse pela musculação cresceu explosivamente.

    Hoje parece que vivemos um choque de forças entre os neo-Rambos e os neo-hippies. Voltando ao assunto da musculação, uma boa parte dos praticantes despreza os mitos dos filmes de 80, procurando inclusive outros estilos de treino (funcional, pilates, etc.), ao passo que alguns continuam treinando pesado simplesmente para ficar grandes.

    Parece besteira, mas eu acho que o conflito musculação x fitness representa perfeitamente duas correntes de pensamento… Com a onda do fitness, as mulheres vão dominando um ambiente que antes era totalmente masculino. No meio de tanto fitness, os “Rambos” têm dificuldade de se encaixar, até mesmo na academia. Fora dela, as coisas estão cada vez mais complicadas.

    A controvérsia em torno do MMA também mostra esse conflito de visões de mundo. Reparem nos comentários das notícias sobre os eventos de MMA — uma boa parte das pessoas, em sua maioria homens, fica escandalizada com a violência. Nem as mulheres ficam tão escandalizadas quanto os novos adeptos do politicamente correto. Enquanto eles extravasam a sensibilidade, o comportamento e os valores tipicamente masculinos vão perdendo espaço. Em resumo, ser homem é “feio”. Veremos qual vai ser o resultado desse choque de forças. Alguns estão vestindo a saia com orgulho (vide o cartunista Laerte e todos os outros travecos) mas outros ainda resistem.

    Aliás, isso me lembra o filme 300 e as críticas que ele recebeu em todos os aspectos. Será que vamos conseguir conter o avanço dos “persas”, apesar das deserções e traições? Eu espero que sim, mas não estou muito otimista.

    • andre desbravador em 06/13/2012 às 19:44
    • Responder

    texto filosico….
    ser homem não é facil nessa sociedade teatral, tudo gira em torno d e uma farsa, vc vale o que vc tem.

    • Charlton Heslich Hauer em 06/13/2012 às 16:35
    • Responder

    Texto do cacete!

    Tem um trecho em que todo homem deveria ler e saber o que se passa contra ele nessa sociedade:

    “desvalorização sexual: exclusão econômica, vilificação constante na midia, discriminação perante a lei”

    Ou seja, há uma misandria explícita e que precisa ser combatida de forma incansável.

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