por Satoshi Kanazawa, do Psicology Today
traduzido por Durga, do Fórum do Búfalo
Carlin Flora escreveu sobre o quebra-cabeça da violência doméstica. Dados os enormes custos de saúde relacionados aos maus-tratos, a questão de por que muitas mulheres agredidas ficam com seus maridos ou namorados abusivos é intrigante. Enquanto a maioria das mulheres agredidas, eventualmente, deixa os seus agressores, uma minoria substancial (estimativas variam de um quarto a um terço) permanecem em seus relacionamentos conturbados. O problema é duplamente intrigante a partir de uma perspectiva da psicologia evolucionista, porque enfatiza a importância da vida, a sobrevivência e o bem-estar individual. Por que tantas mulheres agredidas permanecem em seus relacionamentos abusivos?
O que aumenta o mistério é que a maioria das mulheres mistifica sua própria escolha. Quando pressionadas, entretanto, muitas respondem dizendo: “Porque eu o amo”; a ligação emocional com o agressor é um dos principais motivos que as mulheres agredidas dão por escolher ficar. Do ponto de vista da psicologia evolucionista, as emoções do amor e outras são mecanismos que obrigam organismos próximos a adotar comportamentos que, no contexto do ambiente ancestral, teriam aumentado sua aptidão inclusiva. O fato de que as próprias mulheres mistificam sua própria escolha quando seguem as suas emoções e permanecem com seus parceiros violentos parece sugerir a possível operação de lógica evolutiva que as mulheres não têm acesso consciente completo. Mas que possíveis benefícios reprodutivos pode haver em ficar com os companheiros violentos, podendo essas mulheres ficarem muitas vezes gravemente feridas, às vezes mortas?
Da visão Dawkinsiana (ou, mais corretamente, Hamiltoniana) genecêntrica da vida, há uma coisa mais importante do que a própria vida, que é o sucesso reprodutivo. A vida é importante, a sobrevivência é importante, só porque você não pode chegar nela, se você está morto. A vida é apenas um meio para a reprodução. Organismos (como os humanos) são apenas veículos para seus genes, e são os genes, e não os organismos, que estão no comando. Seria, portanto, destacar o poder da visão centrada no gene da vida, se ficar com um parceiro violento tem algum benefício para os genes das vítimas, enquanto que incorre em custos enormes para as próprias vítimas.
Um benefício possível é que, tanto nos Estados Unidos como no Reino Unido, as mulheres ligadas a parceiros violentos têm mais filhos. No exemplo britânico, as mulheres que são ligadas aos maridos abusivos têm em média mais filhos do que aqueles que não são (0,7912 contra 0,7007). A diferença aumenta para um oitavo de um filho (0,1324) em uma análise de regressão múltipla, que inclui adequados controles estatísticos para confunde potenciais. No entanto, as mulheres maltratadas não têm mais filhas do que as mulheres comuns (0,6787 contra 0,6836). E a tendência para a violência, que é em grande parte uma função dos níveis de testosterona, é altamente hereditária. Em outras palavras, pais violentos tendem a gerar filhos violentos.
Os homens violentos tendem a não se dão bem nas civilizadas sociedades pós-industriais, como a nossa, pois eles tendem a ser muito representados na população prisional. No entanto, nosso cérebro não sabe disso. O cérebro humano, incluindo todos os seus mecanismos psicológicos evoluídos, é desenvolvido e adaptado às condições de nosso ambiente ancestral. Em nosso ambiente ancestral, os homens violentos, provavelmente, se deram muito bem em sua competição intrasexual por status, e assim por oportunidades de acasalamento. O pai mais prolífico na história registrada, Moulay Ismail, o Sanguinário, que teve pelo menos 1.042 (mas provavelmente mais perto de 1.400) crianças em sua vida, teve também a fama de ter matado 30.000 pessoas por suas próprias mãos. Homens agressivos, violentos e cruéis, muitas vezes são os melhores guerreiros e líderes políticos ao longo da história evolutiva humana, até muito recentemente.
Em espécies caracterizadas por alto investimento parental masculino (como os humanos), os homens em postos mais altos de dominância, em média, fazem melhores pais devido à sua maior capacidade de proteger e investir em seus filhos do que os homens nas fileiras menores de dominância. Filhos de tais homens de níveis mais altos de dominância são, portanto, melhores do que os de homens de classes mais baixas de dominância. Além disso, se a mulher agredida já tem filhos com o agressor, ela pode não ser capaz de encontrar uma alternativa de companheiro superior e pai para seus filhos, porque padrastos representam provavelmente o maior perigo físico para as crianças. Bebês e crianças que não vivem com dois pais biológicos enfrentam 40 a 100 vezes mais chance de serem feridos ou mortos dentro da família do que aqueles que vivem com ambos os pais biológicos. Assim, tão terrível como viver com o agressor pode ser para o bem-estar físico da mãe, a alternativa (deixá-lo e viver com outro homem que não é o pai genético de seus filhos) pode até ser pior para o bem-estar físico e reprodutivo de seus filhos (e, assim, seus genes). Portanto, não é inteiramente razoável postular que as mulheres podem ter sido selecionadas para tolerar um certo nível de violência não-letal de seus companheiros, a fim de proteger simultaneamente os seus filhos e para produzir filhos competitivos (mesmo que eles sejam propensos a violência também).
Não estou sugerindo que as mulheres têm uma preferência para acasalar com agressores violentos em vez de bondosos, gentis, e com recursos milionários. Dada a escolha, qualquer mulher em sã consciência prefere o último ao primeiro. No entanto, o processo de acasalamento está longe de ser aleatório ou irrestrito; nenhuma mulher (ou homem) tem toda uma gama de potenciais parceiros para escolher. Devido à natureza altamente estruturada e socialmente constrangedora de conhecer pessoas, o que resulta em associativo acasalamento (não aleatório), a escolha de algumas mulheres, infelizmente, é muitas vezes o entre desempregados, sem instrução, sem inteligência, desmotivados e homens alcoólatras que são violentos. A sugestão é, que em algumas circunstâncias, as mulheres podem ter sido selecionadas a preferir a primeira para a segunda. Alguns perdedores (hoje em dia) podem ser melhor do que outros, especialmente no contexto do ambiente ancestral. Existe ainda alguma evidência de experimentos de campo em quatro cidades americanas que homens empregados são mais propensos a bater suas esposas do que os homens desempregados.
A diferença no número médio de filhos entre as mulheres vítimas de abuso e as comuns (cerca de um décimo primeiro de um oitavo de um filho) é, reconhecidamente, muito pequena. No entanto, modelos biológicos evolutivos mostram que mesmo uma vantagem de 1% em sucesso reprodutivo é suficiente para a traço genético se espalhar na população dentro de um período de tempo relativamente curto. Assim, mesmo uma pequena vantagem de ter uma fração de um filho carregando genes violentos do pai e, portanto, tirando da competição por status seus rivais masculinos e colegas pode ser suficiente para justificar a tendência das mulheres de ficar com seus maridos abusivos para evoluir.
A tendência das mulheres agredidas a ter mais filhos do que outras mulheres não pode potencialmente explicar o fenômeno de outra forma enigmática de por que algumas mulheres agredidas permanecem em seus relacionamentos abusivos. Esta explicação, se pelo menos parcialmente verdadeira, ressalta o poder da psicologia evolutiva e sua visão centrada no gene da vida. Às vezes, organismos sacrificam seu bem-estar e vida a fim de aumentar seu sucesso reprodutivo.
OBS: NÃO DEIXEM DE OUVIR O JORNAL DA REAL DESTA SEMANA:
http://canal.bufalo.info/2012/05/quarto-prototipo-do-jornal-da-real-no-ar/
4 comentários
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Para mim, mulher que fica com homem que a agride, só tem uma explicação: falta de vergonha na cara.
E os homens que ficam com mulheres violentas? como se encaixam nessa teoria?
Autor
A não ser q o homem esteja sob cárcere privado, só se ele for muito IMBECIL pra ficar junto de uma doida violenta. Ou ele sai fora antes ou acaba ficando com raiva e reagindo, o q provavelmente não vai acabar bem pra agresora…
Pior que o homem atual tá muito mangina. Tenho um colega que se namora uma vadia que vive batendo nele e ele não faz nada, e ainda defende. Uma vez eu metí a Real nele questionando: “mas o que você quer com essa vagabunda? Você não tem o mínimo de dignidade e amor próprio? Termine de uma vez este namoro”. O cara em vez de refletir melhor, ele me xingou e ainda defendeu a vadia, dizendo: “Ela não é vagabunda. Ela não é como as outras”. Então eu disse: “Então vai se fuder! Tem mais é que apanhar mesmo…”
Então fazer o que? O homem moderno tá muito mangina. Se sujeita a qualquer coisa por causa de uma buceta.
Kika, tem muito homem que fica por causa da pressão social e principalmente por causa dos filhos, pois sabe que a sociedade e/ou o sistema judicial não é tão equilibrado e favoravel a sua separação. Isso, quando ele não se suicida, ou mata a parceira. Talvez isso explique varias dados de mortes masculinas.