Dia 19 de novembro, além de ser o Dia da Bandeira, é também o dia que é comemorado o Dia Internacional dos Homens. Mesmo que no Brasil o Dia do Homem seja comemorado dia 15 de julho, é interessante saber o porque tal data comemorativa foi criada e também ver um pouco das raízes do Dia Internacional da Mulher.
por Jason Thompson
Observando os dias internacionais das Mulheres e a dos Homens envolvem múltiplos objetivos, com ambos as datas destacando assuntos considerados únicos para cada sexo. O que vem a seguir não é uma análise de ambas as datas, mas uma tentativa de jogar luz sobre os dois objetivos principais e completamente diferentes dos dias internacionais dos homens e o das mulheres: o dia das mulheres luta contra a opressão, enquanto o dia dos homens tenta promover modelos positivos de masculinidade.
Há diversos mitos sobre a origem do dia das mulheres, e depois de uma pesquisa na literatura existente sobre o assunto vemos que temos algumas informações desencontradas. Por exemplo, um dos mitos sobre o dia das mulheres propagado por aí que surgiu nos círculos comunistas franceses afirmam que funcionárias de uma fábrica textil fizeram um protesto no dia 8 de março de 1857 na cidade de Nova Iorque. Esta versão conta que estas trabalhadoras estavam protestando sobre as péssimas condições de trabalho e pelos baixos salários e foram atacadas e dispersadas pela polícia. Afirma-se ainda que este evento levou a uma comemoração em 1907 pelo seu 50º aniversário, e este evento se constituindo no primeiro dia internacional da mulher. Em resposta a estas afirmações Temma Kaplan explica que “Nenhum destes eventos parecem ter ocorrido, mas muitos europeus acreditam que o dia 8 de março de 1907 inaugurou o dia internacional da mulher.” [1] Especulações sobre a origem da lenda de 1857 levaram a Liliane Kandel e Françoise Picq a sugerir que é provavel que em tempos recentes alguns viram a oportunidade de separar o dia internacional da mulher de suas origens soviéticas e lhe dar um verniz mais “internacional” que poderia ser demonstrado como algo anterior ao bolshevismo e mais espontâneo que uma merda resolução do Partido Comunista ou de uma iniciativa de mulheres afiliadas ao Partido. [2]
Enquanto inúmeras histórias apócrifas sobre as origens deste dia existem, podemos dizer com segurança que o dia internacional da mulher foi iniciado pela socialista alemã Clara Zetkin em 1910 como um meio de promover as idéias e objetivos políticos socialistas e sempre foi referido pelo nome político de “dia internacional das proletárias”. Comemorações deste evento foram feitas primariamente pelo bloco soviético. Isto até a década de 1970, quando as mulheres fora do bloco soviético começaram a comemorar este dia e a palavra “trabalho” foi sendo gradativamente retirada, junto com toda a referência ao socialismo.
As raízes do dia internacional da mulher datadas de 1970 viraram alvo do revisionismo feminista. Mesmo que a data original era usada para destacar a opressão das proletárias pelos burgueses e pela classe dominante composta tanto por homens e mulheres, as feministas de 1970 fizeram a revisão da data, impondo que agora só os homens eram uma classe de “chauvinistas” que detinham todo o poder sobre todas as mulheres, que eram vítimas da opressão masculina. É a opressão masculina que o dia internacional da mulher pretende derrubar. Com esta nova visão ideológica as mulheres não são mais vistas como pare da elite dominante, e como opressoras de mulheres das classes mais baixas – capitalismo, esquemas tradicionais de gêneros impostas por homens e mulheres poderosos; diversas leis, linguagem, etc, etc – foi reduzida a um só inimigo: os homens e seu patriarcalismo. Este novo sistema ideológico para o dia internacional das mulheres foi elaborado durante as décadas de 1970-80 sob o nome de “teoria do patriarcado” [3] e a sua chegada é relacionada com um aumento significativo com o número de mulheres interessadas sobre o dia internacional da mulher [4], um interesse que sem dúvida foi criado pelo medo da “opressão patriarcal” da mulher. É certo que mulheres foram e são oprimidas por esteriótipos de gênero e estruturas de poder, e a luta pela liberdade é algo legítimo. No entanto, tendo em mente que o que aparenta ser uma explicação muito simplista proposta pela “teoria do patriarcado” [5] é provável que as causas da opressão continuem a ser exploradas de um jeito mais sofisticado para que o dia internacional das mulheres e o dos homens possam ser realmente algo com credibilidade para poder melhorar as relações entre os gêneros.
O Dia Internacional dos Homens, concebido pelo Dr. Jerome Teelucksingh em 1999, tem origens e uma base ideológica completamente diferentes do dia internacional da mulher. Mesmo que em algumas ocasiões os objetivos de ambos se assemelhem, como promover a igualdade entre os sexos, o objetivo principal da dada é celebrar exemplos positivos de masculinidade e outros assuntos pertinentes a experiência dos homens de todas as idades. Esta aproximação foi vista como necessária pois atualmente há uma fascinação em mostrar o homem como um “machão violento”, como por exemplo, a mídia sempre mostrando homens como estúpidos, insensíveis, egoístas, violentos, perigosos, sedentos de poder, irresponsáveis, etc. Tais esteriótipos negativos são frequentemente usados para intimidar os homens, ignorando o fato que a grande maioria deles não agem desta maneira negativa. Esta intimidação acaba impactando a auto estima dos garotos, o que por sua vez a atrapalha a boa vontade deles em interagir de forma positiva para a sociedade. Destacando exemplos positivos de masculinidade, os homens de todas as idades reagem muito melhor a estes bons exemplos do que com a esteriotipação negativa.
Resumindo, o dia internacional da mulher começou como uma forma das mulheres promoverem os objetivos socialistas, especialmente para as proletárias lutarem contra a opressão das classes dominantes composta tanto por homens e mulheres. Em 1970 o dia se transformou num novo movimento em que somente homens oprimem as mulheres, e assim o dia internacional da mulher começou a ser usado, primariamente, para propagar uma guerra entre gêneros. Podemos dizer que o dia internacional da mulher mudou de uma luta de classes para uma luta de gêneros.
Enquanto o dia internacional dos homens nunca foi baseado numa luta entre gêneros. Ele é focado principalmente em promover e celebrar exemplos de masculinidade positivos num mundo contemporâneo que está cada vez mais preocupado em enfiar goela abaixo das crianças que os homens são monstros horríveis.
[1]Temma Kaplan, On the Socialist Origins of International Women’s Day, in: Feminist Studies, 11, 1985, S. 163-171. (PDF)
[2]Liliane Kandel / Françoise Picq, Le Mythe des origines à propos de la journée internationale des femmes, in: La Revue d’en face, 12, 1982, S. 67-80.
[3]Lindsey German, Theories of Patriarchy in International Socialism second series no 12. 1981. ( DOC)
[4]1900-2010: Increased interest in IWD correlates with the emergence of ‘patriarchy theory’.
[5]Sandra Bloodworth, The Poverty of Patriarchy Theory Originally published in Socialist Review (Australian), Issue 2, Winter 1990, pp. 5-33. ( DOC)