por Carlos
Eu não sou machista!!! Isso mesmo. Vocês podem até não acreditar, e eu já estou notando o ar de deboche de algumas meninas a respeito desta minha sincera declaração. Acreditem, é a mais pura verdade. É claro que em algum momento da minha vida eu já fui machista. Isto ocorreu lá pela casa dos meus 20 anos e poucos. Mas agora, com o passar dos tempos, e com meu profundo amadurecimento, eu declaro alto e bom som: EU NÃO SOU MACHISTA!!!
Antigamente, quando eu ainda era machista, eu saia com a minha amada do momento, pagava os jantares caros nos restaurantes finos da moda. Oh época boa!!! Quando apanhava a namorada em casa, eu abria a porta do carro, só de vez em quando, precisava estar realmente apaixonado, mas fazia este gesto, que eu acho um exagero, afinal todas tem mãos. Abria a porta dos elevadores, deixava ela entrar nos recintos na minha frente. Às vezes, muito raramente eu puxava a cadeira para ela sentar. Frequentava os motéis de qualidade, afinal queria o maior conforto para a minha amada.
Enfim, fazia todas estas coisas que tanto agradam as meninas. E fazia com satisfação, achava que era uma boa coisa a ser feita, era um conforto que eu proporcionava às mulheres que amava. Estava amando, e quando isso acontece, você se esmera nos agrados com toda razão e justiça. As mulheres merecem.
Com o advento desta suposta igualdade, começaram a me encher o saco com reclamações a respeito dos agrados que eu fazia. Algo do tipo não precisa abrir a porta porque eu tenho mãos, e cosias do gênero, sempre procurando enfatizar que não eram necessários meus agrados, tão gentis por sinal, porque eles sinalizavam uma situação de desigualdade entre os homens e as mulheres.
Resumindo, cavalheirismo passou a ser encarado como machismo, ou como desigualdade. Eu, na minha inocência, relutei em aceitar que não mais poderia ser gentil com as mulheres que eu amava. Relutei por um longo tempo. Era o que eu havia aprendido e achava uma boa coisa. Relutei e lutei. Só angariei problemas, reclamações e a insatisfação geral. A amada da ocasião se confrontava comigo, exigindo igualdade de direitos. Os deveres ela deixou passar ao largo.
Farto de tanta insatisfação com a minha pessoa, resolvi, estrategicamente, aderir à nova situação. Passei, evidentemente, a informar o valor da conta dos restaurantes caros que frequento com ela.
Ela finge que não entende, mas eu insisto, e ela faz cara feia (???) Porque será??? Não é tudo igual??? Será que não é machismo eu pagar a conta sozinho? Estou privando a minha amada de participar igualmente nas despesas mútuas, afinal os dois comemos no restaurante, caro por sinal. Ela reluta em pagar. Eu pago, mas ao mesmo tempo passo a frequentar os restaurantes mais baratos do bairro. Para ser mais exato, levo-a para almoçar na pensão, que aliás tem uma comida deliciosa, e me oferece um preço de ocasião.
Já que esta valendo tudo, não abro mais a porta do carro, nem por dentro. Quando ela fica esperando que eu abra a porta pelo lado de dentro, eu simplesmente pergunto, de vidro abaixado, se ela não tem mais mãos. Entro no elevador na frente dela, e deixo a porta a seu encargo. E para complementar, quando vou ao mercado, deixo que ela carregue as sacolas, e venho andando na frente, alegremente, sem fazer nenhum esforço. Às vezes carrego também, afinal igualdade é dividir. Não a levo mais aos lugares de carro. No máximo lhe dou o dinheiro da passagem, devidamente contado, e mando ela pegar um busão. Não sou machista, é claro. Se fosse seria gentil e prestimoso.
O resumo da situação é que eu estou gostando. Ela me dá mais valor, mas reclama do mesmo jeito. Entretanto, eu me aborreço menos, minha despesa diminuiu, tenho mais tempo para mim mesmo, saio mais sozinho com meus amigos para aquela cerveja. Enfim, estou mais tranquilo. Ah! havia esquecido.
Ela esta melhor no sexo. Para variar, as mulheres associam qualquer mudança à existência de uma suposta amante, o que não é verdade. Para ela, é como se existisse, e eu vou tirando proveito disso.
Viva a igualdade!!!
Este texto faz parte do projeto: Segunda das Relíquias Perdidas
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