Dez razões por que deixei de ser de esquerda

Autora: Danusha V. Goska
anti socialism
Tradução de Fábio Leite
Quão esquerdista eu era? Tão esquerdista que meu amado tio era membro ativo de um partido comunista em um país comunista – quando eu voltei para sua cidade, na Eslováquia, para comprar para ele um cartão e realizar uma missa em seu nome, o padre se recusou a vender um para mim. Tão esquerdista que um terrorista declarado quis se casar comigo. Tão esquerdista que fui, por duas vezes, voluntária do Corpo da Paz e tenho graduação na UC Berkeley. Tão esquerdista que minha mãe caminhoneira costumava dizer para todo mundo que havia votado em Gus Hall, presidente do Partido Comunista, para presidente. Eu usava um button em que estava escrito “Coma os Ricos”, e para mim isso não era uma metáfora.Votei nos Republicanos na última eleição presidencial dos EUA.A seguir, estão as dez maiores razões por que deixei de ser de esquerda. Não é uma lista para comparar teorias rigorosamente – é antes uma lista idiossincrática, de impressões e intuições. É um registro de fatos relevantes da minha jornada cheia de caminhos tortuosos.10) Arrogância e facilidade de se ofender

No fim dos anos 90 eu estava lendo “Anatomy of the Spirit” (“Anatomia do Espírito”), de Caroline Myss, então um sucesso de vendas. Myss escreveu que estava comendo algo com uma mulher chamada Mary. Um homem se aproximou de Mary e perguntou-lhe se ela podia fazer um favor para ele no dia 8 de junho. “Não”, respondeu Mary, “absolutamente, não posso fazer nada no dia 8 porque é o encontro dos Sobreviventes do Incesto (N. do T.: associação para tratar de pessoas que sofreram abuso de familiares, semelhante aos Alcoólicos Anônimos), e nós nunca faltamos uns com os outros! Eles já sofreram muito nesta vida! Eu nunca iria traí-los”.

Myss ficou muito surpresa. Mary poderia simplesmente ter dito “sim” ou “não”.

Quando eu li esse caso, senti que confrontava a essência mesma da minha vida social entre esquerdistas. Nós nos afobávamos em colocar todas as pessoas em três classes: oprimidos, opressores e vingadores dos oprimidos. Vivíamos nossas vidas em um estado constante de indignação e ultraje. Eu não queria mais viver desse jeito – eu queria cultivar uma gratidão, ver os outros como amigos em potencial e criaturas de Deus, e não vítimas e vilões. Eu queria entender o ponto de vista de pessoas das quais eu discordava sem imediatamente demonizá-las como opressoras inimigas.

Recentemente, fui a um treinamento de professores em uma universidade. O palestrante era um novo professor concursado, o Professor Xis. No começo de sua fala, ele nos disse que havia recebido um convite para um almoço festivo com o reitor. Para mim isso era algo muito bom, e não entendi por que ele parecia se sentir dramaticamente maltratado. O convite tinha sido feito aos “Senhor e Senhora Xis”, e o Professor Xis era solteiro – e se sentiu desrespeitado. Talvez a pessoa que lhe deu o envelope do convite o tenha desrespeitado porque ele faz parte de uma minoria.

Irritado, o Professor Xis continuou, dizendo que esteve receoso em aceitar um cargo neste campus composto por alunos da classe trabalhadora, que geralmente moram nos subúrbios. A falta de conexão entre a suposta defesa que os esquerdistas fazem dos pobres e o fato de eles, na prática, os esnobarem realmente me marcou. Estudantes vulneráveis seriam ensinados por um professor que via a associação a eles como um fardo, uma falha, um estigma.

O presidente dos EUA é Barack Obama. Kim, Kayne, Brad e Angelina são membros de famílias multi-raciais. Poderíamos pensar que os professores finalmente teriam razões e fatos para ensinar aos seus estudantes terem orgulho pelo fato dos EUA estarem superando o racismo. “Calma lá”, alertou o Professor Xis. Sua palestra era sobre as microagressões (N. do T.: idéia surgida a partir da Microfísica do Poder de Michel Foucault, e já começaram a falar disso também aqui no Brasil), definidas como pequenos desrespeitos que provam que os EUA ainda são racistas, sexistas, homofóbicos e preconceituosos contra pessoas portadoras de deficiência.

Então o Professor Xis projetou uma série de fotografias em um telão. Numa delas, trabalhadores carregando maletas subiam um lance de escadas. Esta foto era um ato de microagressão – afinal, como nos lembrou o Professor Xis, cadeirantes não podem subir escadas.

Eu aprecio a vontade que o Senhor Xis tem em defender as pessoas deficientes, mas associar uma simples fotografia de trabalhadores subindo escadas a um ato de microagressão e evidência que os EUA ainda são hegemonicamente opressores teve um impacto em mim – eu estava diante de alguém que vivia sua vida em um estado de alta e profunda indignação. Além disso, o Professor Xis poderia ter sido mais respeitoso ao falar dos seus estudantes da classe trabalhadora.

Sim, há lugar e hora em que é absolutamente necessário para uma pessoa estar alerta à sua dor e à dor dos outros. Médicos instruem seus pacientes a localizar exatamente onde está a dor, a dizer se ela é fraca ou intensa e a dizer se ela é inconstante ou constante – porém, médicos o fazem com uma razão: querem o paciente curado, e continuar com o tratamento para além da dor. Na esquerda, encontrei um desejo de estar constantemente em estado de dor, de modo a sempre ter algo contra o que protestar, desde contra o incesto sofrido por alguém até contra a inabilidade de cadeirantes em subir lances de escada.

9) Indignação seletiva

Quando eu era estudante de graduação, o assunto da mutilação genital feminina surgiu em uma aula. Eu disse, sem meias palavras, que isso era errado.

Um colega, que era bolsista integral e hoje é professor concursado, sorriu sarcasticamente: “Você é uma intolerante. A remoção do clitóris é um rito de passagem de uma cultura diferente. Vocês, católicos, têm a crisma”.

Em 2012, quando Mitt Romney era o candidato republicano à presidência dos EUA, proferiu que, como governador de Massachussetts, procurava proativamente por canditatas mulheres aos trabalhos mais elevados. Na ocasião, ele disse que tinha “pastas lotadas de mulher”, querendo dizer, é claro, que ele guardava, em pastas, os currículos de mulheres que queriam se candidatar a esses trabalhos. Editoriais da oposição, o Daily Show de John Stewart, e postagens no Twitter, no Facebook e na Amazon, estouraram em frenesi, atacando Romney e o Partido Republicano por conduzirem uma “guerra contra as mulheres” (N. do T.: talvez porque quiseram manchar a imagem do governador como alguém que “coisificava” as mulheres).

Eu fui uma esquerdista ativa por décadas. Nunca havia testemunhado nenhuma fúria da esquerda contra extirpação do clitóris, casamento entre crianças, assassinato em nome da honra, leis favoráveis ao estupro inspiradas pelo Sharia, apedrejamentos ou ataques com ácido. Nada. Nada. E não estou dizendo que não existe indignação contra esses fatos – apenas estou dizendo que eu nunca os vi partir da esquerda.

A indignação seletiva da esquerda me convenceu que muito do feminismo canônico não age tanto em apoio das mulheres, mas sim para protestar contra homens ocidentais e heterossexuais. É um fenômeno do “eu odeio”, e não um fenômeno do “eu amo”.

8) O que importa é o pensamento

Meu adesivo preferido na ultra-liberal Universidade de Berkeley, na Califórnia, dizia “Pense globalmente e bagunce localmente”. Em outras palavras, “Ame a humanidade e odeie as pessoas”.

Numa ocasião, nos anos 80, era mais de meia-noite, em Kathmandu, no Nepal. Um grupo do Corpo da Paz estava tomando Moonshine na caverna Momo. Uma garota bonita, de cabelos longos e loiros, pegou um violão e cantou estes versos que lembro de cor: “Se você quer seu sonho realizar / Construa-o firme e devagar / Pequeno começa, grande termina / Trabalho do coração, puro germina.” Trinta anos mais tarde, procurei essa letra no Google, e descobri que era a canção de São Damiano, inspirada pela vida de São Francisco. Ao ouvir essa canção na caverna Momo, naquela noite, pensei que nós, esquerdistas, estávamos errados, e que era a mensagem da canção que tínhamos que compreender (N. do T.: se for ver bem, com a estratégia Gramsciana, até que a esquerda segue direitinho a mensagem da música, tirando a parte da pureza e do coração).

Nós nos focávamos muito em nossas boas intenções. Antes de chegarmos no Nepal, o Corpo da Paz nos selecionara pelo nosso idealismo e “tolerância”, e não pela nossa competência ou realizações. Todos nós queríamos salvar o mundo. O pouco que nós deprimentemente conseguíamos era normalmente destruído nas próximas secas, deslizamentos ou insurreições.

O Corpo da Paz não se concentrava na parte do “pequeno começa”, necessária para chegar às grandes realizações. As escolas [nepalesas] raramente funcionavam, garotas e crianças de castas mais baixas não compareciam, e a corrupção disseminada garantia que os estudantes sempre recebessem aprovações. Os estudantes que aprendiam alguma coisa não conseguiam trabalhos onde pudessem aplicar suas habilidades, e se por acaso ascendessem socialmente, os mais poderosos das castas maiores os sabotavam. Graças ao relativismo cultural, nós éramos proibidos de fazer objeções ao intenso sexismo ou ao sistema de castas. “Só opressores intolerantes julgam a cultura dos outros”.

Fui também voluntária das Irmãs de Caridade. Para elas, soube bombear água fria de poço e lavar piolhos de mendigos. As Irmãs não queriam salvar o mundo. Alguém [Cristo] já o tinha feito. Então, as Irmãs se concentravam nas pequenas coisas, de acordo com o conselho da fundadora Madre Teresa: “não olhem para as grandes coisas, apenas façam as pequenas com grande amor”. Catar piolhos de mendigos foi uma das minhas poucas realizações concretas.

Em 1975, depois que Hillary Rodham [Clinton] seguiu Bill Clinton até o Arkansas, ela ajudou a criar naquele estado o primeiro número telefônico de emergência para suspeitas de estupro. Ela olhava para o problema de larga escala. Mas como era Hillary pessoalmente? Ela foi advogada de um homem de 41 anos, acusado, juntamente com outro homem, de estuprar uma adolescente de 12 anos. A garota, que era virgem, ficou em coma por cinco dias depois da agressão. Ela foi ferida tão gravemente que [os médicos] lhe disseram que não poderia engravidar. Em 2014, essa garota, agora uma senhora de 52 anos, nunca teve filhos e nem se casou, dizendo que tem medo dos homens depois do estupro que sofreu.

Uma antiga entrevista com Clinton recentemente apareceu. Ele diz claramente que Hillary acreditava que seu cliente era realmente culpado, e que ela sorri discretamente quando diz que conseguiu livrá-lo da condenação. Em outra entrevista, a vítima do estupro disse que Hillary “a levou para o inferno” e que “mentiu como uma cadela.” “Acho que ela quer ser um exemplo de pessoa… mas eu não acho que ela o seja de jeito nenhum”, disse a vítima. Se ela fosse alguém exemplar, teria me ajudado naquela época, quando eu era uma garota de 12 anos que foi estuprada por dois homens.”

Hillary tinha olhos apenas para o seu próprio currículo, no qual estaria, em letras maiúsculas, a frase: “CRIADORA DO NÚMERO DE EMERGÊNCIA CONTRA ESTUPROS.”

O discreto sorriso de Hillary ao se lembrar de sua vitória legal sugere que, de acordo com o que ela pensa, arruinar a vida de uma vítima de estupro é de uma importância relativamente negligenciável.

7) Esquerdistas odeiam meu povo

Sou uma Bohunk da classe trabalhadora [N. do T.: “Bohunk” é um modo pejorativo de chamar descendentes de tchecos que vivem nos EUA. Em equivalentes brasileiros seria como chamar uma descendente de poloneses de “polaca” ou uma nissei de “japoronga”]. Cem anos atrás, os esquerdistas nos amavam. Nós tínhamos empregos péssimos e os capangas das empresas atiravam em nós quando fazíamos greve, e os esquerdistas viam nosso descontentamento como combustível para seu fogo.

Karl Marx prometeu o paraíso dos trabalhadores por meio de uma inevitável revolução do proletariado. O proletariado é uma classe trabalhadora industrial – imagine pessoas trabalhando em minas, moendas e fábricas: exatamente o que imigrantes como meus pais faziam.

Americanos de origem polonesa tiveram significativa participação em uma vitória: a greve de 1937 em Michigan contra a General Motors (https://en.wikipedia.org/wiki/Flint_Sit-Down_Strike). Ítalo-americanos produziram Sacco e Vanzetti (https://en.wikipedia.org/wiki/Sacco_and_Vanzetti). Gus Hall era filho de imigrantes finlandeses.

No fim das contas, entretanto, não nos mostramos felizes para os marxistas. Nós acreditávamos em Deus e, muitas vezes, éramos católicos devotos. Os esquerdistas queriam que nós descartássemos nossas identidades étnicas para nos unirmos à irmandade internacional do proletariado – “Trabalhadores do mundo, uni-vos!” Mas nos agarrávamos às nossas distinções étnicas. As gerações futuras [nascidas nos estados unidos] perderam seus laços ancestrais, mas não adotaram a bandeira do Industrial Workers of the World (N. do T.: sindicato revolucionário dos EUA); eles adotaram a bandeira dos EUA. “Propriedade é roubo” é uma frase de efeito comunista, mas ninguém tem mais orgulho de sua casa do que um polonês da primeira geração de imigrantes, que escapou do campesinato sem terras e pôde garantir seu lar suburbano.

Esquerdistas se sentem como se nós os tivéssemos abandonado no altar, e se voltaram contra nós. E não é coisa de antigamente: em 2004, o livro “What’s the Matter with Kansas?” (“O que há com o Kansas?”) ficou 18 semanas nas listas dos mais vendidos. A premissa da obra: trabalhadores são estúpidos demais para saber o que é bom para eles, e por isso eles votavam nos conservadores quando deveriam votar na esquerda. Na Inglaterra, o livro recebeu o título “What’s the Matter with America?” (“O que há com os EUA?”)

Nós nos tormamos um saco de pancadas da esquerda. Embora já estivéssemos nos EUA algumas décadas antes da demonização começar, os esquerdistas, seja na academia, na mídia ou em conversas casuais, culpavam a ética da classe trabalhdora pelos crimes, incluindo o racismo e a guerra “imperialista” no Vietnã. Assista a filmes como “O Franco Atirador” (“The Deer Hunter”, direção de Michael Cimino, 1978, com Robert de Niro). Repare no papel de Archie Bunker em “All in the Family” (N. do T.: seriado dos anos 70, conhecido no Brasil como “Tudo em Família”). Ouça o punhado de piadas de polonês que os elitistas contavam quando eu me apresentava em Berkeley.

Esquerdistas rotulam livremente os brancos pobres de “roceiros”, “lixo branco”, “lixo de trailer” e “jeca” (N. do T.: aqui no Brasil, a moda é chamar de “reacionário”, “coxinha”, “fascista”, “privilegiado”, “lixo humano”). Ao mesmo tempo em que os esquerdistas vomitam essas palavras classistas e racistas, eles se acham tão superiores moralmente que proíbem qualquer um de pronunciar a palavra “nigger” (N. do T.: equivalente ao nosso “crioulo”) ao ler Mark Twain em voz alta. O conselheiro do ex-presidente Bill Clinton, James Carville, resumiu o desprezo dos esquerdistas pelos brancos pobres numa frase: “arraste uma nota de cem dólares por um trailer park, você nunca sabe o que pode encontrar” (N. do T.: trailer parks são moradias de baixo padrão nos EUA, vistas como lugar de gente muito pobre. O equivalente brasileiro seria dizer algo como “com 50 reais você compra muita gente nas COHABs”).

O ódio visceral da esquerda pelos brancos pobres vazou como um esgoto estourado quando John McCain escolheu Sarah Palin como vice-presidente na campanha para a presidência dos EUA em 2008. Seria impossível e perturbador tentar identificar qual o comentário mais ofensivo que os esquerdistas fizeram a respeito de Palin. Pode-se até dizer que os ataques a Palin foram tão intensos e claros que até alguns esquerdistas pediram publicamente para que as ofensas terminassem. Um blog chamado The Reclusive Leftist (“O Esquerdista Recluso”) fez uma postagem, em 2009, dizendo que foi “um choque” descobrir “o quão certas pessoas que se dizem esquerdistas realmente desprezam trabalhadores.” O The Reclusive Leftist destacou o caso do jornalista Henry Rollins, da Vanity Fair, que recomendou aos esquerdistas “comer mulheres conservadoras e jogar fora depois” e classificou Sarah Palin como uma “jeca de cidadezinha” que poderia ser comprada com um tíquete refeição.

Manchar a reputação não é suficiente. Políticas esquerdistas nos sabotam. Políticas de cotas e ações afirmativas beneficiam pessoas de acordo com a cor da pele, e não de acordo com a renda. Mesmo esse foco limitado é falho. Em seu estudo de 2004 da Yale University Press, Thomas Sowell insiste que ações afirmativas beneficiam apenas os negros mais ricos, e não os mais pobres. Em 2009, os sociólogos Thomas Espenshade e Alexandria Rodford, de Princeton, demonstraram que os cristãos brancos e pobres não eram numerosos nas universidades de elite. Os esquerdistas insultam e injuriam: um garoto branco e pobre, que se sente perdido e sem amigos em um campus universitário, um campus que ele tem que deixar imediatamente após as aulas para ir trabalhar no McDonald’s, tem de aceitar que é um branco privilegiado caso queira obter boas notas nas matérias obrigatórias sobre a questão do racismo.

A esquerda ainda busca pelo seu proletariado [N. do T.: sobre esse assunto, procurar as análises de Olavo de Carvalho da obra de Herbert Marcuse. Em resumo, a esquerda descobriu que a classe revolucionária não pode mais ser composta pelo proletariado comum, que melhorou de vida com o trabalho no capitalismo, mas sim pelo lumpemproletariado, ou seja, marginais, criminosos e prostitutas]. Ela suporta imigrações em massa por essa razão. George Borjas de Harvard, ele mesmo um imigrante cubano, foi chamado de “maior economista da imigração”. Borjas argumenta que imigrantes vindos da América Latina sabotaram o pobre trabalhador americano.

É mais do que estranho ver que esquerdistas, que se descrevem como a voz do trabalhador, escolham os trabalhadores tanto para odiar quanto para serem os alvos de sua engenharia social falida.

6) Eu acredito em Deus

Leia Marx e descubra uma mitologia irreconciliável com qualquer outra narrativa, inclusive a Bíblia. Passe um tempo nos ambientes virtuais mantidos por esquerdistas, e você descobrirá ódio irracional contra a tradição judaico-cristã. Você descobrirá um vocábulario alternativo que descreve Cristo como “um judeu morto num pau” ou um “zumbi”, e para o qual qualquer crença é uma ilusão arbitrária como o Monstro do Espaguete Voador. Você descobrirá revisionismos históricos colocando o nazismo como uma denominação cristã. Você descobrirá rejeições à fundação judaico-cristã da civilização ocidental e dos conceitos estadounidenses de direitos individuais e lei. Você descobrirá um vácuo niilista, o mesmo tipo de vácuo que a natureza detesta e que, por tantas vezes, a História preenche com os piores pesadelos totalitários, como a besta que se arrasta em direção a Belém.

5 e 4) Falácia do Espantalho e “para se fazer uma omelete, é preciso quebrar alguns ovos”.

Pensar nisso agora me deixa impressionada, mas nunca, em todos meus anos de militância esquerdista, eu ouvi alguém articular, com precisão, a posição de alguém que fosse da direita em relação a nós. De fato, eu nem sabia que essas posições existiam quando eu era da esquerda.

“A verdade é aquela que serve ao Partido”. Revolução, com R maiúsculo, era algo tão bom que poderia eliminar todo o mal – então manipular fatos [em favor dela] não era sequer um pecado venial, e sim algo bom. Se você quer fazer um omelete, precisa quebrar alguns ovos. Um desses ovos é a realidade objetiva.

Ron Kuby é um radialista de esquerda na rádio New York WABC. De hora em hora, ele usa a falácia do espantalho. Se alguém telefona para ele questionando a ação afirmativa – os programas não deveriam beneficiar as pessoas de acordo com sua renda, e não de acordo com sua cor? – Kuby começa a atacar. Ele é um falastrão bombástico, que acusa o participante de ser um membro da Ku Klux Klan, falando sobre os horrores do linchamento de pessoas negras e perguntando “você ainda apóia isso?”

Bem, é claro que o ouvinte que telefonou para ele não apóia nada disso, mas é mais fácil orquestrar um ataque sensacionalista de fúria em nome da justiça contra um espantalho do que produzir um contra-argumento razoável para um oponente razoável.

Em 16 de junho de 2014, a colunista Dana Milbank, do Washington Post, publicou um texto alegando que um muçulmano pacífico foi verbalmente linchado por violentos islamófobos num debate mantido pela Heritage Foundation. O que Milbank descreveu foi muito desagradável. Infelizmente, para ele e para a credibilidade do Washington Post, alguém filmou o evento e postou o vídeo no YouTube. Os participantes do debate, incluindo Frank Gaffney e Brigitte Gabriel, levantaram pontos importantes de um modo muito cortês. Saba Ahmed, o muçulmano em questão, é amigo da família de uma pessoa que tramava um atentado a bomba expressando desejos de assassinar crianças. Logo ficou claro que Milbank estava inventando coisas.

Milbank calunia qualquer um que tente analisar a jihad, uma força atualmente citada como responsável por matar inocentes – inclusive muçulmanos – da Nigéria às Filipinas. A estratégia esquerdista de caluniar aqueles que dizem verdades desconfortáveis cala os discursos e tem um impacto devastador no confrontamento da verdade tanto no jornalismo quanto nos campi universitários.

3 e 2) Não funciona. Outras abordagens são melhores.

Eu fui a uma palestra de David Horowitz em 2004 (N. do T.: Horowitz é um escritor estadunidense que, antes de se tornar conservador e abandonar a esquerda, foi uma das vozes mais altas da New Left nos EUA). Minha intenção era interrompê-lo com perguntas rudes. Porém ele disse algo que interrompeu minha linha de pensamento. Ele disse que as cidades de Camden, Paterson e Newark (N. do T.: cidades do estado de Nova Jérsei, famosas pela sua tradição industrial) tinham décadas de liderança do Partido Democrata.

Ai.

Cresci na “Grandiosa Geração” de estadounidenses, que ajudou a construir essas cidades. Uma mulher mais velha me disse que “logo quando eu recebia meu pagamento semanal, corria para a avenida principal de Paterson e todo o meu dinheiro acabava nas minhas costas, em forma de uma roupa nova”. Nas décadas de 1950 e 1960, meus pais e seus amigos fugiram da violência mortal em Newark e em Paterson.

Em algumas poucas décadas, Paterson, Camden e Newark se degradaram em favelas hostis, com mortes, traficantes e ruas cheias de lixo. A dor que os habitantes de Nova Jérsei expressam sobre essas cidades decadentes é uma ferida aberta em nosso estado.

Eu vivo em Paterson. Ensino sua juventude. Meus estudantes estão tolhidos pela ignorância. Eu me encontro falando para jovens nascidos nos EUA [e eles me olham] como se eu estivesse falando grego.

Muitos dos meus alunos estão cegos para algo mais do que o vocabulário. Eles não acreditam em si próprios, ou em perseverar em tarefas importantes ainda que isso seja desconfortável no começo. Eles não percebem que as pessoas que exercem poder sobre eles enfrentaram e superaram obstáculos. Eu sei que eles não sabem dessas coisas porque eles me dizem. Um estudante confessou que quando ela percebeu que um de seus professores superou problemas, teve sua própria vida transformada.

Meus alunos sabem – porque lhes fora ensinado – que os EUA são governados por racistas todo-poderosos que nunca os deixarão vencer. Meus estudantes sabem – porque lhes fora inculcado – que a única maneira de seguir em frente é encontrar e fazer amizade com aqueles poucos esquerdistas brancos que se apiedarão deles e lhes darão migalhas caso supliquem e se curvem a eles com as palmas das mãos abertas. Meus alunos aprenderam a se concentrar na pior coisa que lhes aconteceu, assumindo que é assim porque os EUA são injustos – e a repetir essa estória para qualquer um que tenha responsabilidades, do conselho de bem-estar social aos professores, e a esperar por doações.

Aquele comentário isolado de David Horowitz, um homem que eu considerava inimigo, marcou o início lento e gradual da percepção de que meus ideais, pelos quais eu tinha lutado por toda a minha vida, estavam envenenando meus alunos e Paterson, minha cidade.

Depois que eu percebi que as abordagens da esquerda não funcionam, eu comecei a ler sobre outras abordagens. Eu tive outro momento em que “a ficha caiu” enquanto ouvia a este vídeo (https://www.youtube.com/watch?v=RWsx1X8PV_A) em que Milton Friedman responde a Phil Donahue. A única resposta racional a Friedman é “Meu Deus, ele está certo.”

1) Ódio

Se o ódio fosse a única razão, eu deixaria de ser esquerdista apenas por isso.

Há quase 20 anos, quando eu não podia pensar em ser outra coisa além de esquerdista, eu me inscrevi num fórum on-line de discussão da esquerda.

Antes disso, eu já tinha outros 20 anos de participação na política esquerdista no mundo real, cara-a-cara: marchando, organizando, socializando.

Nesse fórum on-line, de repente, meu único contato com os outros se dava apenas através das palavras que eles digitavam na tela. Esses meios limitados de contato me revelaram algo.

Se você tomasse todas as palavras digitadas naquele fórum todos os dias e as organizasse de acordo com a parte da fala a qual pertenciam, você rapidamente perceberia que substantivos expressando emoções de raiva, agressão e desgosto, e verbos de destruição, punição e vingança eram muito mais numerosos que qualquer outra classe de palavras.

Um tópico era intitulado “O que você vê de desprezível na América moderna?” Começou em 2002. Depois de quase oito mil postagens, o tópico ainda estava vivo e forte em junho de 2014.

Essas postagens desse fórum esquerdista publicamente anunciavam o que os esquerdistas faziam diaraimente, desde votar até ir a um protesto ou planejar a vida, porque eles sempre queriam destruir algo porque odiavam alguém, menos do que queriam construir algo, ou porque amavam alguém. Eles iam para um protesto antiguerra porque odiavam o Bush, e não porque amavam a paz. E quando Obama bombardeou [o oriente médio], não se organizava nenhum protesto antiguerra, porque não odiavam o Obama.

Eu tive a experiência de uma poderosa dissonância cognitiva quando eu reconheci o ódio. O mais direitista dos meus conhecidos de direita – não tinha amigos de direita – não expressava nada semelhante a isso. Meus conhecidos de direita falavam sobre amar: amar Deus, suas famílias, suas comunidades. Não quero com isso dizer que os direitistas que eu conhecia eram pessoas melhores; não sei se eram. Aqui, meramente estou falando de linguagem.

Em 1995 eu desenvolvi uma doença debilitante. Não podia trabalhar, perdi minhas economias e viajei por três estados, de cirurgia em cirurgia.

Um amigo esquerdista, Pete, mandava-me e-mails xingando Republicanos como George Bush, a quem ele se referia como “Bushitler”. Os Republicanos eram alvo de ataques porque se opunham à medicina socializada. De fato, não é certo, de maneira alguma, que a medicina socializada teria me ajudado; meu problema não era comum e não havia tratamento eficaz.

Eu visitei fóruns on-line em busca de outros com a mesma doença. Um dos meus companheiros de sofrimento, que se identificava como um executivo de sucesso em uma corporação em Nova Jérsei, anunciou publicamente que os sintomas eram tão horríveis, e que a diminuição severa do seu padrão financeiro de vida não era o que sua esposa merecia como barganha quando ele se casou com ela, que ele havia planejado tirar sua própria vida. Ele parou de postar depois disso, apesar de eu lhe ter respondido e pedido para que ele retornasse. É possível que ele tenha se matado exatamente como ele disse que faria – sufocado na garagem com o motor do carro ligado. Subitamente, eu percebi que o meu button com os dizeres “Coma os Ricos” era um pecado cuja premissa era uma mentira.

Em todo caso, quando fui diagnosticada com a doença, Bush não era o presidente dos EUA; era Clinton. E, como eu disse ao Pete, suas incessantes e veementes expressões de ódio contra os Republicanos não me ajudaram em nada.

Eu tinha uma amiga, uma enfermeira, Mary Montgomery, uma das Irmãs da Providência, que me levava para almoçar a cada seis meses, e me dava cartões-presente no natal. Suas atitudes para ajudar alguém, melhor do que expressões de ódio – mesmo seus gestos minúsculos, que não faziam nada para me recuperar a saúde – significaram muito para mim.

Recentemente, eu tentava explicar esse aspecto do porquê eu deixei de ser esquerdista para uma amiga da esquerda, Julie. Ela me respondeu “Não, eu não sou alguém desagradável. Eu tento ser legal com todo mundo.”

“Julie”, eu disse, “você é uma militante do Occupy Movement (N. do T.: aquele que começou com o “Occupy Wall Street”). Você poderia usar seus dias para ensinar crianças a ler, ou visitando pessoas idosas em asilos, ou organizando mutirões de limpeza em periferias cheias de lixo. Mas você não o faz. Você passa seu tempo protestando e tentando destruir algo – o capitalismo”.

“Sim, mas eu sou muito legal com isso”, ela insistiu. “Eu sempre protesto sorrindo.”

Pete agora é um amigo de Facebook, e sua timeline transborda de fúria que, tenho certeza, ele considera justa. Ele protesta contra cristãos homofóbicos, imperialistas americanos e a Monsanto. Eu não sei se Pete já doou algo para uma organização na qual ele acredita, ou para uma pessoa doente, ou se ele já disse palavras de conforto para pessoas que sofrem ao seu redor. Eu sei que ele odeia.

Agora eu tenho amigos de direita e eles também ficam bravos e expressam sua fúria. Mas quando eu encontro vituperações perturbadoras e estratosféricas, quando eu encontro fantasias detalhadas de vingança em linguagem escatológica e sádica, eu sei que estou em um site de esquerda.

Dado que a esquerda se orgulha em ser a libertadora das mulheres e homossexuais, em ser “sex-positive”, um dos aspectos mais esquisitos do ódio esquerdista é o quão freqüente, e o quão virulentamente ele se expressa em termos misóginos e homofóbicos, e em uma distinta voz antissexual digna de um colegial desajustado e frustrado. Os odiadores sabem que não seria “legal” usar termos como “bicha”, então eles espalham em seu discurso termos que indicam estupro anal, como “bunda doída”. Esquerdistas estigmatizam direitistas como “chupadores de bolas”, e a implicação é que vêem seus desafetos ou como uma mulher ou como um gay sendo penetrado oralmente por um homem, sendo os alvos portanto inferiores e desprezíveis.

O discurso misógino é uma longa tradição na esquerda. Em 1964, Stokely Carmichael disse que a única posição cabível às mulheres no Movimento pelos Direitos Civis era a “curvada”. A misoginia de Carmichael é muito mais ultrajante quando se considera o papel real de mulheres como Rosa Parks, Viola Luizzo e Fannie Lou Hamer [N. do T.: mulheres que efetivamente lutaram pelos direitos civis nos EUA].

Em 2012, blogueiras ateístas como Jennifer McCreight e Nathalie Reed expuseram o grau de misoginia imperante no novo movimento ateísta nos EUA. McCreight replicou uma resposta de um eminente ateísta contra uma mulher que o criticava: “Eu é que vou fazer de você uma vítima de estupro se você não cair fora… acho que o cara que te estuprou mereceia uma medalha. Tomara que você afogue em porra de estuprador, sua vaca feia e malvada… É essa a maneira que o pau do estuprador entrou na sua buceta? Ou ele comeu seu cu? Vou te estuprar com minha mão.”

Um notável exemplo de insulto esquerdista veio por Martin Bashir, da MSNBC, no final de 2013. Ele disse, no ar, em uma performance ensaiada, e portanto sem descontrole, algo tão baixo em relação a Sarah Palin que eu não repetirei aqui. Extremo que seja, o comentário de Bashir é muito representativo de uma boa percentagem do que eu leio em sites esquerdistas.

Eu poderia dizer muito sobre um fenômeno realmente assustador nos EUA, que é o anti-semitismo de esquerda. Mas vou deixar o assunto para aqueles que estão mais qualificados para comentar. O que posso dizer é que, na primeira vez em que vi falarem, em uma festa para arrecadação de fundos em Marin County, eu me senti como se estivesse de volta à Berlim do pré-II Guerra.

Eu tinha que abandonar a esquerda. Percebi quando eu decidi que eu queria usar meu tempo construindo, cultivando e estabelecendo, com outras pessoas, algo que elas amam.

2 comentários

    • Vagner da Rosa em 09/17/2016 às 14:59
    • Responder

    Não vou discutir o texto. Vou chamar atenção para uma coisa que sempre me incomodou nessa página, mas nada tão importante a ponto de eu ler todos os artigos e aproveitar o que posso.
    Eu sou de esquerda. Conheço histórias como as citadas acima mas com os papéis invertidos. Não é esse o caso. Mas, por algum motivo, já percebi que a maioria acredita que não dá para ser de esquerda e acreditar na honra masculina. É preciso deixar de ser tão maniqueísta. As concepções políticas são flexíveis. Conheço muitos amigos de esquerda que são a favor da legalização das armas. Eu sou um deles. Somos muito na esquerda que desaprova o feminismo, as barbáries feitas em nome do tal comunismo. Muito do que se espalha por aí também são equivalentes ao “comunista come crianças”. Meu avô, que era militar, sempre dizia para mim desde criança, que comunista gostava de colocar criança em uma bolsa e levar para fazer sabão. Ele derretia num tacho e fazia sabão. kkkkkkkkkkkkkkkkk!
    Sou completamente contra qualquer injustiça, independente de como se auto denominam os autores ou as vítimas.

    1. Todos temos os seus defeitos, o seu é ser de esquerda. Fazer o que.

Deixe um comentário

Seu e-mail não será publicado.