por W. F. Price, do (atualmente defunto) The-Spearhead.com
Mesmo tendo revolucionado a medicina, o homem muitas vezes não tem cuidado com sua própria saúde. Tendemos a confiar na nossa resistência para aguentarmos tanto o trabalho diário quanto as farras. Porém, alguns cuidados e a adoção de hábitos saudáveis pode nos ajudar, e muito. Assim sendo, gostaria de dividir com vocês uma pequena vitória que obtive neste campo.
Há uns 20 anos atrás, enquanto viajava com meu padrasto que me visitava na China, onde eu vivia na época, nós paramos numa agradável cidadezinha provinciana chamada Yinchuan. Suas ruas bonitas e limpas, seu céu limpo e claro e a modéstia silenciosa do lugar era uma mudança muito bem vinda das ruas fedorentas, agitadas e lotadas de Beijing, com seu céu sempre tomado por uma nuvem de poluição. Como Yinchuan ficava no deserto de Gobi, ela me lembrava uma cidade do sudoeste americano, algo que era reforçado pela presença de cowboys mongóis empoeirados em um bar local. Um que lembro até hoje portava um respeitoso bigode, uma camisa branca de seda e botas pretas lustrosas. Ele tinha uma presença muito forte, que atraia a atenção das mulheres locais.
Como capital da região de Ningxia, Yinchuan ficava na rota da antiga Rota da Seda que em seus dias de glória era habitada principalmente pelos Hui, que são povos étnicos de Han que se converteram ao islamismo com o passar dos anos. Também foi capital do reino ocidental de Xia, que desenvolveu uma pujante civilização que se manteve independente por séculos, mesmo estando espremidos entre os mongóis, os tibetanos e os chineses de Han. É uma região muito rica culturalmente, tendo mongóis, turcos, chineses, tibetanos e mesmo alguns indo arianos de descendência persa como parte integrante de sua população. Mesmo sendo um fato desconhecido no ocidente, o intercâmbio cultural que aconteceu na Rota da Seda introduziu influências culturais persas na China, algo que pode ser constatado até mesmo nos dias de hoje na música, vestimentas, religião e artes chinesas.
Como estava quente neste dia, eu fui atrás de alguma coisa refrescante para beber na loja mais próxima, e notei que vendiam uma curiosa bebida chamada “suan nai” em mandarim, palavra que pode ser traduzida como leite azedo ou leite coalhado. Como vi que poderia ser uma bebida tradicional da região, acabei comprando uma garrafa. Ela vinha embalada de forma primitiva, coberta apenas com um papel parafinado que era mantido no lugar com um elástico de borracha. A garota da loja me deu um canudo, que usei para furar o papel para eu poder beber a mistura gelada.
Eu não sabia bem o que esperar daquilo, então fiquei surpreso com o gosto ácido da bebida. Respeitando o nome, a bebida tinha um sabor forte e levemente adocicada, e se revelou muito refrescante. Como não sabia seu nome em inglês, acabei assumindo que a bebida era alguma espécie de iogurte, mas muito mais gostoso do que os iogurtes dos quais eu costumava beber.
Quando finalmente voltei para minha casa, procurei sem sucesso por um produto semelhante, mas não conseguia achar nada semelhante além do iogurte normal do qual nunca fui muito fã. Depois de um tempo desisti de procurar e esqueci daquilo.
Anos depois, numa visita aos países bálticos, tive a oportunidade de experimentar uma bebida local conhecida como “kefir“. Depois de prová-lo, eu imediatamente me lembrei daquele leite azedo que bebi em Yinchuan. Era a mesma coisa! Mas que sorte, pensei, achar essa bebida da qual havia desistido de encontrar a anos atrás.
Após voltar a Seattle, estava determinado a encontrar um jeito de comprar essa bebida em solo americano. Achei em algumas lojas de produtos orgânicos, porém custava caro e era de qualidade inferior. Depois de muito pesquisar na internet, descobri que tudo que se precisa para fazer seu próprio kefir é obter algo chamado “grãos de kefir”, o que podia ser comprado online. Logo após encontrei uma vendedora polonesa que tinha uma fazenda de cabras e que vendia os grãos online, e no ato fiz uma encomenda.
Mesmo que tenha levado uma semana ou mais para eu poder acertar a quantidade de leite que deveria usar com os grãos e o tempo de fermentação, eu finalmente consegui pegar o jeito da coisa e agora tenho uma garrafa disso todos os dias. Tal bebida não é apenas gostosa e barata, mas tem também muitos benefícios para a saúde.
Os grãos de kefir é uma substância semelhante a uma goma, onde colônias simbióticas de bactérias e leveduras convivem, formando uma matriz que os protege e os mantém alimentados. Esta microflora se expande na presença dos açucares do leite, e por volta de 24 horas a temperatura ambiente eles processam o leite, deixando ele com uma quantidade de vitaminas significativamente maior e com uma menor quantidade de açúcares, juntamente com uma ligeira quantidade de gás e uma pequena quantidade de álcool. Explicando o processo para meus filhos, eu o batizei de “cerveja de leite”, já que essencialmente o processo é semelhante.
Junto com as vitaminas, vem inúmeros outros benefícios. Essas bactérias, que são inofensivas ao homem, competem com micro organismos danosos e ajudam no processo digestivo. Ajudam a fortalecer o sistema imunológico, reduzem o risco de diabetes e como acabei descobrindo, combate a indigestão. Para mim foi o efeito mais sensível. De acordo com os povos bálticos, também ajuda a reduzir os efeitos da ressaca. Antigamente, os homens no Cáucaso – uma região conhecida por sua grande longevidade – creditavam suas longas vidas ao consumo diário de kefir.
Entretanto, temos mais do que simples benefícios de saúde. Há algo de gratificante em fazer sua própria comida. Na nossa era de comidas industrializadas e do deserto biológico das comidas pasteurizadas, é encorajador saber que podemos viver tranquilamente sem precisar exterminar todas as criaturas microscópicas que integram nossos alimentos. Chego a pensar que minha pequena colônia de kefirs são como um animal de estimação da qual eu alimento e ele me alimenta em troca.
Sendo um homem que vive numa sociedade profundamente estranha e anti natural, eu acredito que se envolver em atividades mais naturais mesmo de formas bem modestas como esta pode ajudar a combater aquela sensação de alienação que as vezes toma conta de si. E parece que meu corpo concorda com meu pensamento.
Assim sendo, é por isto que decidi compartilhar minha pequena história com os kefirs com vocês.
4 comentários
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assinem pessoal pode parecer insignificante mais se todos contribuírem a gente chega lá.
https://secure.avaaz.org/po/petition/O_fim_do_apoio_governamental_ao_movimento_feminista/?pv=8
Autor
Avaaz, até onde eu sei, financia esses movimentos feministas.
Vai dar mesmo o seu nome para algo que não tem peso pra nada e que provavelmente está coletando seus dados?
Já tomei iogurte feito com esses grãos de Kefir aí e não sabia, uma amiga da minha mãe arrumou um pouco pra ela e disse que eram lactobacilos vivos, tem
Show! Em um futuro próximo a sabedoria antiga terá uma valor sem precedentes!