Confiança, aviões e um amigo de Stalin

Estranha combinação para um post, eu concordo. Mas lendo o texto, ela fará sentido…

Primeiro, iremos começar falando de aviões. Um avião de passageiros, como os da Airbus ou os da Boeing, a cada novo modelo que lançam eles devem submeter tais aviões a extensivos testes de resistência e durabilidade para, somente depois de aprovados com louvor em tais provas, serem liberados para voarem pelos céus do mundo, carregando milhões de passageiros todos os dias. No vídeo abaixo, podemos ver a asa de um Boeing 777 sendo testada até seu limite máximo, apenas se quebrando depois de resistir a um esforço 154% maior do que ela foi projetada a suportar. Algo impressionante!

Agora, vamos ao amigo do Stalin… Na fabulosa biografia “Jovem Stalin”, Simon Sebag Montefiore nos conta todas as desventuras do jovem ditador soviético, desde seu nascimento até a efetiva tomada do poder. Além de contar a história do carniceiro da Geórgia, Montefiore abre espaço para conhecermos alguns de seus aliados (que acabaram perecendo na mão do “amigo” mais tarde…). Entre várias figuras dignas de nota, uma me chamou a atenção.

Kamó, descrito como “psicopata, amigo de infância de Stalin e degolador”, era também ladrão de bancos, assassino e mestre dos disfarces. Ficou preso e se fingiu de louco por 1 ano, se submetendo a torturas que levaram os médicos a realmente crer em sua loucura disfarçada. Com esta ficha “marcante”, uma de suas características que mais me chamaram a atenção durante a leitura foi a atitude que ele tinha com seus comandados.

Ele, paranoico como todo bolchevique, para saber se os homens que ele comandavam eram realmente confiáveis, fazia um imenso teatro. Apontava para o coitado a ser testado e dizia veemente que ele era um traidor e que seria executado. Seria poupado, obviamente, se confessasse a traição. Batia no cara, armava um tremendo espetáculo e por fim, quando o cara realmente não dobrava, levava o pobre diabo ao fuzilamento, só para suspender tudo no segundo final e dizer “não cara, realmente você é um dos nossos! tava brincando!”. Não é de se espantar que alguns desses coitados acabassem ficando loucos depois disso…

Da wikipedia, eu retiro este trechinho (traduzido de forma bem rápida) que fala sobre alguns dos métodos dele:

“Tendo a permissão de criar sua própria gangue, Kamó testaria todos os seus novos recrutas para ter absoluta certeza que eles eram aptos para a tarefa. Kamó testava-os os levando a uma atividade na floresta e atacando-os usando aliados seus disfarçados de membros do Exército Branco, o amarrando a uma árvore e assim simulando uma execução para testar a coragem do recruta. Kamó dizia que com este teste “ele tinha a absoluta certeza que eles (seus camaradas) não os passaria para trás”. Em uma ocasião, um recruta acabou se revelando um espião durante um dos testes. Foi morto no ato. Kamó então abriu o peito do homem e arrancou seu coração, mostrando-o para os demais recrutas. Quando Lenin soube dos testes de Kamó, ele ficou tão perturbado por isso que mandou uma mensagem afirmando que jamais desejaria vê-lo novamente.”

Como deixado bem claro acima, com esses testes ele mantinha apenas os mais confiáveis no seu comando. Algo primordial no período pré Revolução de Outubro, onde as tropas do Czar faziam um serviço relativamente competente de contra insurgência (isso para as condições época, evidentemente, onde tal tipo de insurgência era algo novo).

O que eu quero dizer aqui é: as vezes, quando temos que manter uma pessoa perto de nós e colocá-la em uma posição de confiança, devemos testá-la de forma impiedosa. Claro, não precisamos simular fuzilamentos ou forçar a ela a algo que é 154% a mais do que ela aguenta, mas tem horas que ir além do limite razoável te dará respostas muito esclarecedoras.

Obviamente, tudo que falo acima tem que ser feito com muito bom senso e com o espírito preparado para que se seu teste der realmente errado, não importa o quanto investiu naquela pessoa, você infelizmente terá que deixá-la de lado. Afinal, você não confiaria viajar num avião que não foi testado de forma satisfatória, não é mesmo?

* obs: acho que nem preciso dizer que recomendo a todos que leiam as biografias de Stalin (Jovem Stalin e A Corte do Czar Vermelho) escritas por Montefiore. É um trabalho primoroso, feito de forma imparcial e que te fará entender a insanidade que tomou conta da Rússia;

* obs 2: além desta biografia, recomendo também que procurem a biografia dos outros grandes ditadores de nossa história. Irão aprender algumas lições valiosas. Antes que questionem o que se pode aprender com facínoras, peço que reflitam em cima de uma frase do Nessahan: “Extraia o bem que há no mal e tome para si. Retire o mal que há no bem e jogue-o fora.”

Caso esta seja a última postagem de 2014, desejo a todos uma excelente virada de ano e um 2015 cheio de vitórias!

Semeno Aržakovitš Ter-Petrossian, também conhecido por "Kamó"

Semeno Aržakovitš Ter-Petrossian, também conhecido por “Kamó”

4 comentários

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  1. Barão, hoje vi um texto da Real ganhar força em ambiente fora da Real. É este aqui, que vi sendo compartilhado por duas pessoas diferentes que não se conhecem nem teriam como se conhecer. Tudo bem que ambas as pessoas são do tipo mais zoeiro e em ao menos um dos compartilhamentos vi comentários de gente com perfil de guerreiro da justiça social (SJW em inglês, de social justice warrior) chocada com o texto em questão, alguns falando que iriam denunciar a publicação em questão.
    Por um lado, é importante notar que estamos vendo o que veio de Nessahan em diante ganhando força entre a sociedade comum, em parte indo pela mesma maré antiesquerda que vimos ganhar vulto no país neste ano e que abrange diversos campos. Se isso se tornar algum tipo de senso comum na sociedade e daquele tipo de coisa que você não sabe de onde veio mas faz (usando aqui a mesma mecânica básica do gramscismo, mas contra o próprio gramscismo), melhor para a Real, que poderá passar para campos mais avançados e novos adeptos poderão acabar descobrindo aquele fio que vira novelo e depois carretel completo. Porém, ela também fica exposta a inocentes úteis comuns do povo que não sabem que aquilo que fazem favorece a ascensão de um tipo de totalitarismo que vemos em estado adiantado na Venezuela e em estágios menos avançados em outros vizinhos (Bolívia, Argentina e Equador), com chances de o nosso país chegar a esse estágio menos avançado em pouco tempo. E essas pessoas comuns, mesmo que repitam chavões marxistas que não sabem de onde vieram, acabam tendo um grau de imprevisibilidade maior que o de militantes propriamente ditos.

    Logo, vai ser bom que prestem muita atenção nesse arraigamento da Real, que tem seus lados bons e ruins e vai precisar que o pessoal do núcleo mais duro saiba conduzir isso. Ademais, desejo feliz 2015 a todos.

    1. Aos pouquinhos as ideias vão se infiltrando. É que nem água nas rochas…

    • lucas marques em 12/30/2014 às 21:09
    • Responder

    muito bom o post….parabéns!

  2. Poha ! fechou o ano! ótima o post , sensacional… não vejo a hora de pegar essas biografias pra ler.

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