Esta é a parte final de uma série de artigos que tem por objetivo definir especificamente o feminino (ver partes 1, 2 e 3). Ele representa minhas anotações do livro “The Feminist Gospel” e de alguns trechos interessantes que retirei dele. Eu pegarei resumos que compilei do livro de ideias básicas onde eu pude identificar facilmente coisas que acontecem na igreja moderna, junto a comentários meus sobre tais ideias. Meus comentários estarão em vermelho. O livro em si é muito mais detalhado tanto da vertente secular quanto religiosa do feminismo, e se você puder lê-lo, seria uma boa.
Tendo descrito a afirmação feminista que cada mulher tem o direito de definir seu próprio mundo, esta parte irá descrever a próxima afirmação feminista. É a afirmação que a mulher tem o direito de definir seu próprio deus.
Mundando o gênero de Deus
Não é de se surpreender, dada a leitura das ultimas partes desta série, que o feminismo moderno enfatiza muito a linguagem. Por exemplo, “Mary Daly indentificou a “masculinidade de Deus” como um dos principais problemas na libertação da mulher na igreja.” (1) Tal questão foi posta na comunidade religiosa comum por uma igreja novaiorquina, que ergueu uma estátua de um Cristo feminino na cruz. (1) A estátua está completa, representando os seios, quadris e a vagina. (1)
Isto nos leva ao estudo do sexismo na Bíblia em diversas denominações cristãs, num esforço para “encontrar formas de fazer o culto e o estudo mais inclusivo para todos.” (2) Teólogas feministas rejeitam muito da Bíblia por considerar que ela tenha um “viés masculino”. (2) Eles acreditam que “a Bíblia por si só precisa da libertação da misoginia que a mantém refém”. (2) Isto nos leva ao reconhecimento que a linguagem é um símbolo humano que representa a realidade. (3) Os símbolos da Igreja apresentam Deus como “Ele” e “Rei”, “Senhor” e “Juiz”, e elas argumentam que tais símbolos precisam ser revistos para poder refletir a nova consciência feminista. (3) Como Letty Russell escreveu: (3)
Não podemos esperar por uma nova geração de estudiosos publicarem novas traduções e comentários da Bíblia que eliminem o até então viés sexista inconsciente dos escritores, a maioria dos quais são do sexo masculino.
A maioria não tem uma atitude muito respeitosa perante as Escrituras e estão mais do que dispostos a concordar com o desejo de Letty Russell. Como Burton Throckmorton, Jr, professor de Novo Testamento e membro do Comissão de Revisão da NCC para a Versão Revisada Padrão da Bíblia nos diz: (13)
As Escrituras é um livro da igreja. Eu acredito que a igreja pode fazer com suas escrituras o que ela desejar.
Nós temos a explicação para a mudança da linguagem de gênero e outros fatores dentro da Bíblia em respeito as novas traduções. Embora todos eles têm problemas deste tipo, a Nova Versão Internacional é notadamente uma Bíblia Feminista (1 – 2– 3 – 4 – 5). O fato que temos pouco respeito por como a palavra de Deus foi transmitida para escritores inspirados pelo Espírito é algo muito evidente em toda as igrejas modernas. As pessoas acreditam que podem ser seguidos ou não, e, literalmente, ser alterado ao sabor de quem o ler.
Russel acredita que a junção do pronome de gênero aplicado a Deus com o homem carnal reforça a inferioridade e os esteriótipos supremacistas, alienam as mulheres contra a igreja e servem para limitar Deus a uma imagem masculina e assim resultando em mera idolatria. (4) As sugestões de mudanças na linguagem de Russel para aliviar isto são ilustradas pela leitura feminista do Pai Nosso, que também ilustra a doutrina feminista da igreja que foi descrita nas partes anteriores (5, os números dos versículos serão adicionados por mim para ajudar no acompanhamento):
(9) Mãe/Pai nosso, que está em todos os lugares, santificado seja vosso nome
(10) Que sua nova era venha a tua vontade será feita neste e em todo tempo e lugar.
(11) Atenda as nossas necessidades de cada dia e
(12) Perdoe nossa falha em amar, assim como nós perdoamos esta falha nos outros
(13) Nos ajude em tempos difíceis, e nos guie pelos caminhos do amor. Pois tu é a plenitude e o poder, E o amoroso, para sempre. Amém.
Kassian já nos dá um comentário adequado sobre os efeitos disto no livro, então deixo os comentários para ela.
Como Kassian nos mostra, Russel altera e renomeia Deus em algo diferente da forma que Ele se revelou para nós. (5) Isto é a verdadeira idolatria bíblica que é condenada. Ao mudar a linguagem, eles acabam erotizando/sexualizando Deus, despersonalizando-o, atacando-o, negando a Trindade, obscurecendo o trabalho e a pessoa de Cristo, obscurecendo a relação da humanidade com Deus e até mesmo confundindo a identidade pessoal. (6) O resultado final de renomear Deus é que as feministas viraram a autoridade que decidem seu próprio destino. (7)
Mudando a Deus Completamente
“Desde o princípio, o objetivo final da libertação da mulher tinha sido a obtenção de significado pessoal, valor e integridade.” (8)Tal tarefa é inegavelmente espiritual. (8) Dada a tendência secular de se rebelar contra tudo que seja considerado patriarcal por eles, pois perceberam que eles não fazem essas coisas, não é de se surpreender que eles também se rebelariam contra a expressão religiosa tradicional. Desde que o Deus das Escrituras foi conectado com algo definido por ser masculino, Ele foi descartado. (9) Eles por fim se voltaram para o que eles notavam como sendo matriarcal, ou de adoração à deusas, ao vasculhar as mitologias gregas, egípicias e orientais. (10) Ele foi finalmente visto como a adoração reflexiva de si mesmo com a deusa como o símbolo dessa adoração. (11) Os princípios deste tipo de adoração são: Tudo é Um, Tudo é Deus, Si mesmo é Deus (12), e isto serviu bem para reforçar a experiência pessoal acima de uma autoridade externa.
Enquanto a espiritualidade feminista é um tópico interessante de estudo que explica muita coisa da sociedade moderna, o foco destas anotações é sobre como o feminismo afetou as igrejas.
Não é de se surpreender que as feministas que desejam se auto identificar com a Igreja queriam fazer seus próprios rituais. O que as manteve longe disto foi a autoridade Bíblica. (13) Como dito em partes anteriores, o crente feminista tinha a autorização de aceitar o rejeitar as partes da Escritura que se adequavam ou não a sua visão de igualdade. (13) Isto significa que uma nova autoridade deveria ser criada para substituir as Escrituras. Tal autoridade foi formada na comunidade, que permitiu interpretações da Bíblia que diferiam da teologia Cristã tradicional. (13) “Se uma mulher notar que algumas passagens bíblicas não libertem e dê plenitude ao oprimido, então ela deve legitimadamente julgar tais passagens não condizentes com a “Palavra de Deus.”” Resumidamente, a palavra de Deus se conforma a ela e ela não tem que se conformar as Escrituras. A Experiência se iguala a autoridade. (15)
Tal “experiência” levou as feministas adicionar ao cânone. (16) Elas caçaram por fontes fora da Bíblia que apoiavam sua experiência pessoal e assim pela sua autoridade pessoal as colocaram na Bíblia. (17) Elas encontraram exemplos no Montanismo, no gnosticismo (isto explica a popularidade dos Evangelhos Gnósticos, que acredita que o auto conhecimento é o conhecimento de Deus), o ascetismo, a bruxaria e grupos cristãos sectários que foram colocados no cânone da Bíblia. (17, 18)
O Refino da Linguagem
As feministas provaram a si mesmas certas quando o assunto é que a linguagem tem significado. Como mostrado anteriormente, as feministas religiosas aprenderam a usar a linguagem abertamente para manchar as distinções entre o que é cristão e o que é pagão. (19) Isto resultou numa completa fusão dos ideais das feministas religiosas e seculares espiritualmente falando, mesmo que ambas se expressem em linguagens diferentes. (19) Ambas podem dizer coisas totalmente diferentes mas que tem o mesmo significado. (20)
A torção de palavras em diferentes significados é evidente. As feministas estão corretas ao dizer que as palavras tem significado e as palavras tem poder. Como Haley tentou substituir a submissão pela deferência, as feministas estão trocando o significado de todos os tipos de palavras. Assim sendo, as feministas erodiram e destruíram o entendimento histórico de gênero, especialmente aqueles relatados as Escrituras.
Colocando a autoridade na comunidade acabou resultando em frustração no que se refere às conversas espirituais. Ela requer, em primeiro lugar, um entendimento que diferentes pessoas podem ter diferentes entendimentos de palavras comuns. Depois isto requer um desejo (e paciência) por parte dos envolvidos em discutir o que eles querem dizer com cada palavra que eles usam. Tais palavras representam típicas bases da fé cristã, então tal discussão é necessária para que a conversação espiritual dê frutos. Por exemplo, ao dizer “Jesus” você está falando de Jesus de Nazaré ou do seu Jesus Pessoal? O que quer dizer quando fala “fé”, “sagrado”, “trabalhos”, e tantas outas palavras de uso comum? Eu posso te garantir que que nesta era onde o relativismo moral reina que em qualquer grupo de cristãos que você pesquise carrega uma miríade de definições para coisas que deveriam ser padronizadas entre os cristãos. É triste ver que a expressão média do Cristianismo atual esteja em péssima forma.
As feministas religiosas também acreditam no mantra “Tudo é Um, Tudo é Deus, Si mesmo é Deus”. (21, 22, 23) Mas elas expressam isto usando termos como “conectividade” ou “união” com o Criador, e acreditam que tudo e todos estão conectados através do Criador e com o Criador. (21) Elas reconhecem que Deus está presente em todas as coisas e em todas as pessoas, e favorecem o uso de coisas materiais para descrevê-Lo (pedra, porta, água, planta). (22) Elas reconhecem deus como uma força ou energia impessoal que permeia todas as coisas através de Seu Espírito. (23) Então, enquanto as feministas religiosas são cuidadosas para não se identificarem como Deus, elas usam uma linguagem que indica tal crença pelo reconhecimento que a conversão cristã apenas reconhece o fato e a crença que si mesmo é uma das muitas manifestações de Deus. (23)
O objetivo do feminismo religioso é fazer com que as pessoas reconheçam sua “conexão” com Deus (assim abolindo o pensamento dualístico) e assim fazer a Igreja de morada para todos aqueles que foram definidos como “outros”. (24) Aqueles que realizam completamente isto são considerados os “filhos de Deus”. (24) Então de uma que todos realizem tal coisa, o Reino de Deus estará entre nós, junto com o retorno de Cristo. (24)
Notem, a abolição do pensamento dualístico. Isto significa abolir a ideia do certo e errado, do que é pecaminoso ou não, do sagrado e do profano, da luz e das trevas. Por fim, tudo que você tem a fazer é trazer a si mesmo, você não precisa necessariamente mudar ou se aderir a Deus , e Ele te amará da mesma forma. Bem parecido com o conceito do “Jesus Pessoal”.
Mesmo que eu não tenha a intenção de entrar no assunto “igreja da mulher”, o termo foi usado acima, então acredito que seria melhor ler o trabalho de Kassian para termos uma definição disto.
“A ‘igreja da mulher’ é um movimento feminista contracultural que interage, mas não é controlada pela, religião tradicional. (25) Ele se dá na forma de pequenos grupos de estudo da Bíblia formado por mulheres, grupos femininos dentro de uma igreja, igrejas exclusivas para mulheres, cursos e retiros espirituais só para mulheres. (25) “O objetivo é formar uma cultura crítica ou um êxodo comunitário que rejeita o patriarcado – tanto dentro na Igreja quanto no mundo.” (25) As feministas enxergam a ‘igreja da mulher’ como a verdadeira Igreja de Deus, e irá liderar a Igreja maior em seu novo lar. (26) A ‘igreja da mulher’ busca ganhar uma cabeça de ponte dentro da Igreja enquanto dialogar com as tradições de fora da Igreja. (26) Ela busca também substituir as antigas tradições da Igreja patriarcal com as novas tradições que celebrem a jornada da mulher rumo a libertação e que reflita a ‘igreja da mulher’ como uma comunidade de libertação do patriarcado e da opressão. (27) Por fim, o ritual e a pratica da ‘igreja da mulher’ é indistinguível daquelas do feminismo secular. (28)
Fazer notas é um serviço tedioso, me levou uns 10 meses para completar esta série. Assim como penso que este material seja importante como uma referência formativa, eu acredito que seja importante fazer anotações e apresentá-las. Eu espero que ter a referência seja útil tanto agora quanto no futuro. E finalmente eu gostaria de agradecer Mary Kassian por ter feito toda esta pesquisa e ter publicado o seu livro, que está na lista dos meus livros de formação para explicar os descaminhos da igreja moderna.
(1) The Feminist Gospel por Mary Kassian p 135. (2) ibid pg 136. (3) ibid pg 137. (4) ibid pg 138, 139, 140 (5) ibid pg143. (6) ibid pg 144, 145, 146 (7) ibid pg 147. (8) ibid pg 152. (9) ibid pg 153. (10) ibid pg 154. (11) ibid pg 159. (12) ibid pg 161. (13) ibid pg 169. (14) ibid pg 170. (15) ibid pg 171. (16) ibid pg 172. (17) ibid pg 173. (18) ibid pg 175. (19) Pg 185. (20) ibid Pg 186. (21) ibid pg 187. (22) ibid pg 188. (23) ibid pg189. (24) ibid pg 190. (25) ibid Pg 196. (26) ibid pg 197. (27) ibid pg199. (28) ibid pg 201.
fonte: http://societyofphineas.wordpress.com/2013/05/07/defining-feminism-part-4-defining-her-god/
2 comentários
Off topic: não sou como o menino do filme que “via gente morta o tempo todo”, as as vzs aparecem umas pérolas pela internet:
vendo o video: Homem é flagrado dirigindo sem roupas em Curitiba- http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=nBeGHtKexQU
-sim, é crime é deve ser punido – em um comentário tomei um susto:
Camila Mariusso “e os homens ainda acham engraçado, mentalidade de estuprador do brasileiro…”, ninguem comentou que era certou ou errado, ela fez uma análise banal, sem fundamento como toda feminista faz a seu favor, o que será que ela acha que foi o que as feministas fizeram no Rio de Janeiro nas marchas das vadias? Ela pré-julgou por seu interesse sem saber da índole de cada um.
Estamos reféns cada vez mais disso… foi apenas um exemplo.
Autor
Uai.
O cara andar pelado agora é ter “mentalidade de estuprador”?!
Fico imaginando que ela deve entrar em verdadeiro estado de terror qdo na casa dela o pai dela avisa que vai tomar banho hahahahaha