* retirado do Daily Mail
Retratadas em tons suaves e encantadores, seu olhar puro olhava as pessoas dos outdoors e propagandas em toda a Alemanha nazista.
Loiras, de rosto tranquilo e puro, estas eram as mulheres do Terceiro Reich de Hitler.
Elas eram mães prolíficas, donas de casa excelentes, secretárias trabalhadoras e auxiliares dedicadas.
Elas apoiavam seus homens na guerra e eram devotas à causa do Fuhrer.
E seu Fuhrer as tratava com toda a delicadeza de um amante cortês.
Quando a guerra começou , Hitler as proibiu de trabalharem em fábricas de munição com medo delas perderem sua feminilidade sob o stress do trabalho pesado.
Auxílios sociais eram dados para cada nova criança nascida, famílias com muitos filhos eram publicamente exaltadas e a Cruz de ouro de Honra a Mãe Alemã era dada a cada mulher que tivesse 4 ou mais filhos.
Hitler precisava de uma população de mulheres dóceis e devotas para gerar a nova geração de super homens que ele precisava para popular seu sonho do Império de 1000 anos.
Mesmo com os bombardeios Aliados transformando a Alemanha em escombros, Hitler ordenou que as indústrias que logicamente deveriam ser transformadas em indústrias de armamento continuassem a produzir batons, tecidos e demais artigos femininos “para nossas graciosas mulheres”.
Na arte nazista, filmes e revistas, as mulheres sempre eram o sexo mais belo, defendendo o lar enquanto seus homens lutavam nos campos de batalha.
Mas o que Hitler recebeu em troca de tanta dedicação?
Até recentemente, o papel da mulher na construção da maquina de terror do regime nazista jamais foi realmente revelado.
Mas, em 2009 um livro foi publicado na Alemanha, sob o título de “Perpetrators: Women Under National Socialism ” explode o mito por trás da propaganda.
Na primeira análise alemã no pós guerra do papel da mulher nos crimes nazistas, a historiadora Kathrin Kompisch documenta a vergonhosa realidade sobre seu sexo durante a guerra, que até recentemente era um assunto tabu em seu país.
“A participação da mulher nos crimes nazistas ficou camuflado na consciência coletiva dos alemães por um longo tempo.”, ela escreve.
O belo sexo venerado pela máquina de propaganda criada por Josef Goebbels era, segundo Kompisch, tão desejosas de pisar nos pescoços das vítimas sequestradas pela Gestapo em toda a Europa; tão fanáticas quanto os homens quando o assunto era esmagar a resistência contra o estado.
Elas viraram assistentes dos doutores que primeiro castraram, e depois assassinaram, os “inúteis” deficientes.
Elas se tornavam chefes de segurança nos campos de concentração – como Herta Bothe, conhecida como a Sadista de Stutthof por seus espancamentos brutais.
E elas eram servas fiéis nas SS e suas “fazendas de bebês”, onde o “super homem” era criado. Em tais clínicas sinistras, as mulheres eram as administradoras e as enfermeiras.
E como Kompisch aponta: “e jamais devemos nos esquecer a legião de mulheres que apoiavam seus maridos enquanto eles matavam pessoas aos milhares na Rússia, na Polônia e em lugares como Auschwitz e Treblinka.”
Esta é a corrupção daquela velha máxima que diz que há sempre uma mulher por trás de um homem bem sucedido. No Terceiro Reich, esta frase poderia ser alterada para que a cada assassino em massa havia uma mulher o apoiando silenciosamente, mulher que não teria coragem de levantar sua mão contra seus filhos ou mesmo ao cachorro da família.
“A história do Nacional Socialismo há tempos se reduziu a jogar toda a culpa no homem por todas as atrocidades,” diz Kompisch. “O fato é que a mulher esteve envolvida em todos os níveis dos crimes mais infames e brutais cometidos pelo Terceiro Reich… Elas sempre poderiam escolher, mesmo dentro do Terceiro Reich, e a mulher geralmente era livre para escolher assim como os homens eram.”
“Quem organizava as estatísticas dos assassinatos em massa da SS no front oriental e operavam os rádios que requisitavam mais munição eram invariavelmente as secretárias – e as vezes elas se envolviam muito mais que isso – em todos os postos da Gestapo.
“E no fim da guerra tais mulheres tentavam diminuir suas responsabilidades dizendo que elas eram apenas engrenagens numa máquina masculina que as davam ordens.” Kompisch afirma que as mulheres sob o governo de Hitler – embora retratadas como donas de casa dedicadas – na verdade encontraram oportunidades de crescimento no regime que em tempos de paz não seriam possíveis a elas. Assim como o homem comum pode se transformar num assassino sádico, o “sexo frágil” também poderia se provar forte sob a suástica.
Analisando as estatísticas do pré e do pós guerra, Kompisch descobriu que muitos postos de trabalho no governo, na iniciativa privada e no setor militar foram ocupadas por mulheres de forma muito mais expressiva nos tempos de Hitler do que nos tempos de paz.
Mas aquelas que decidiram ficar em casa – gerando os filhos que o regime tanto admirava – também sujaram suas mãos de sangue.
Afinal de contas, em sua grande maioria foram as mulheres que exigiam que o governo vendesse as jóias, móveis, itens domésticos e roupas que eram tomados de seus vizinhos judeus que desapareciam à noite sem deixar rastros.
A hierarquia fortemente masculina do estado nazista bloqueava as mulheres dos postos de comando desde seu princípio – mas o regime encorajava de forma ativa as mulheres a participar da implantação do terror a níveis primordiais.
A maioria dos Blockwaerts – bisbilhoteiros que denunciavam atividades anti nazistas aos agentes do partido – eram mulheres. As mulheres também faziam denúncias não oficiais à Gestapo sobre vizinhos suspeitos, judeus e outros inimigos do estado três vezes mais do que os homens faziam.
A mulher também minou a sagrada imagem do casamento que o Nazismo queria promover, já que elas eram ávidas denunciantes de seus maridos. Os arquivos ainda disponíveis da Gestapo na cidade de Dusseldorf notava que “elas tentavam mudar a balança do poder em suas casas denunciando seus maridos ao governo como se eles fossem espiões, comunistas ou anti nazistas.”
Kompisch concorda: o “clichê da Mulher portando sua Cruz de Ouro, com seus dez filhos e fazendo pão não passa de um mito. As mulheres podiam e agiram ativamente para se desenvolver durante o Terceiro Reich.”
Qualquer um pode ver os antigos filmes das mulheres delirando, chorando e gritando aos pés de Hitler para notar o efeito messiânico que ele produzia em dias muito anteriores ao de Elvis e aos Beatles. Então o que fez o sexo gentil se transformar em servas do mal em escala tão generalizada?
Por um lado, as mulheres que serviam ajudando as SS nos campos de concentração – como Hermine Braunsteiner, conhecida como a “Égua de Majdanek’, que matava suas vítimas pisando neles e Irma Grese, o “Anjo da Morte” de Belsen e Auschwitz – tinham pouca educação formal, além de serem psicopatas que enfrentavam permanente rejeição da sociedade.
Por volta de 3200 mulheres serviram nos campos de concentração. Guardas femininas vinham geralmente das classes mais baixas e tinham pouca experiência profissional, mas a SS reportava que havia mães de família, cabeleireiras, condutoras de bonde ou professoras aposentadas em suas fileiras.
Dorothea Binz, supervisora do treinamento do campo feminino de Ravensbruck, treinava estudantes na fina arte do “prazer maligno”. Uma sobrevivente testemunhou depois da guerra que os alemães trouxeram um grupo de 50 mulheres para o campo com o objetivo de treiná-las. As mulheres eram separadas e levadas perante os presos. Cada mulher era instruída a espancar um prisioneiro.
Das 50 mulheres, apenas 3 questionaram o porque disto, e apenas uma se recusou a fazer tal coisa. Ela foi tempos depois presa.
O Dr Eugen Kogan, um expert nazista, escreveu depois do término da guerra um relatório para os Aliados sobre as guardas femininas: “Elas eram simplesmente atraídas pela ideologia das SS como um mode de vida que as agradava e na qual elas concordavam… Lá sua “filha da puta interior” poderia ser liberta em cima de alguém e elas faziam isto com um entusiasmo que chegava ao sadismo.”
Mas nem todas eram como Binz ou Grese.
E muito poucas eram como Ilsa Koch, a esposa do comandante do campo de Buchenwald que tinha como divertimento montar as cabeças de presos executados em pedaços de madeira para servir de decoração.
Kompisch chama a atenção para casos de mulheres aparentemente civilizadas para tentar chegar ao núcleo da corrupção de seu sexo ocorrida durante o regime nazista.
Karin Magnussen, nascida em 1908 em Bremen, era uma brilhante bióloga e física. Era uma mulher respeitada por suas capacidades e que não foi afetada pela crise econômica que ajudo Hitler a tomar o poder – e que por fim terminou fazendo experiências em Auschwitz com os globos oculares retirados de prisioneiros ainda vivos, tudo supervisionado pelo demente Dr Josef Mengele, com objetivo de fazer experiências sobre a pigmentação da iris humana.
Ela se tornou uma nazista fanática por escolha própria, e não para obter vantagens financeiras ou sociais que poderiam atrair mulheres de classes sociais mais baixas. No fim da guerra, ela era mais uma daquelas que diziam ter sido “arrastada” pelos acontecimentos.
“Eu fui apenas uma companheira de viagem dos nazistas,” disse Magnussen em 1945. Ela foi liberada para ensinar por mais 20 anos e por fim morreu pacificamente na cama com a idade de 89 anos, no ano de 1997.
A Dra Ruth Kellermann, nascida em 1913, foi outra intelectual que se uniu de forma voluntária à cruzada nazista.
Também era uma cientista brilhante, trabalhou no sinistro Instituto de Pesquisas para a Higiene de Raça e Biologia Popular em Berlim, onde ela fazia experimentos em cadáveres de ciganos mortos em Ravensbruck.
Ela se mudou para Hamburgo, onde ela participava da captura dos ciganos locais que eram levados para os campos de extermínio.
Terminada a guerra, não havia mais necessidade para pesquisas eugenistas e ela se satisfez trabalhando em pesquisas de história social.
Seu passado ficou escondido até os anos 1980, quando em uma de suas palestras de história na Universidade de Hamburgo se transformou em um tumulto quando protestantes invadiram o local, acusando-a de crimes guerra.
“Você mandou minha família para Auschwitz!”, gritou uma das manifestantes.
Depois que um processo foi aberto por grupos romani em 1986, uma corte alemã julgou que “pelo menos ela deveria ter consciência que seus atos levou ao extermínio de inúmeros grupos ciganos.”
A suprema corte logo depois reduziu o veredito, mas era inútil; Kellermann nunca pagou pelos seus crimes e ela nunca teve que se desculpar por suas ações.
E vejamos agora a Dra Herta Oberheuser. Mesmo sendo feliz, talentosa e independente mulher, ela trabalhou no campo de concentração de Ravensbruck.
Oberheuser matava crianças saudáveis com injeções feitas de óleo, misturadas com drogas sedativas, e após isto removendo orgãos vitais e membros do corpo da vítima.
O tempo para que a injeção levasse a morte levava 5 minutos, com a pessoa plenamente consciente durante o processo até o último momento.
Oberheuser também efetuava experimentos médicos horrendos e dolorosos, se focando em infligir deliberadamente feridas em suas cobaias humanas.
Para poder simular ferimentos de combate que os soldados alemães sofriam no campo de batalha e identificar possíveis curas efetivas para tais feridas, Oberheuser esfregava corpos estranhos, como madeira, pregos enferrujados, pedaços de vidro, poeira ou serragem, nas feridas dos prisioneiros.
Oberheuser foi a única ré no Julgamento Médico de Nuremberg, onde foi sentenciada a 20 anos de prisão.
Ela foi libertada em abril de 1952 por bom comportamento e logo depois se tornou médica na cidade de Stocksee, apenas para perder seu posto em 1956, depois que um sobrevivente de Ravensbruck a identificou.
Sua licença para praticar o exercício médico foi caçada em 1958.
Ela dizia sobre o seu serviço: “ser uma mulher não me impedia de ser uma boa nacional socialista. Eu acredito que as mulheres nazistas eram tão valorosas quanto o homem em manter o que eles acreditam vivo.”
O constrangedor livro de Kompisch nos mostra que a mulher se atraiu, e se degenerou, ao nazismo com a mesma força que seus seguidores homens. Em contraste com a propaganda que pintava as alemãs como donas de casa amorosas e dedicas, parece que o dócil ideal proposto por Hitler escondia um núcleo maligno.
Kompisch concluí: “o fato é que a mulher permitiu que suas características femininas fossem suprimidas para se unir ao estado nazista e seus tentáculos.
“Dizer, como a maioria fez no fim da guerra, que elas não sabiam de nada sobre o terror e a tortura é algo inacreditável. Elas apoiaram e subscreveram tal terror e tortura.”
* Taeterinnen: Frauen im Nationalsozialismus foi publicado na Alemanha pela Boehlau Verlag
Obs: Saiu mais um vídeo meu ontem, não deixem de assistir!
3 comentários
Barão, um cara que valeria o título de Homem Honrado do Mês: o argentino Jorge Odón, um mecânico de carros que criou um sistema de facilitação de partos naturais difíceis que é mais eficiente que o fórceps ou o extrator a vácuo e que é bem mais barato, fora a vantagem de causar menos traumas ao bebê. Essa invenção também pode ser vista aqui. Cai mais ou menos naquilo que li em outro artigo da Real sobre por anos e anos as parteiras fazerem sempre da mesma forma e aí um homem resolveu inventar o fórceps e ter ajudado a decrescer as mortes no parto. Agora temos um cara que não é médico e muito menos sentou em qualquer banco universitário, mas apenas aplicou a mesma lógica que se usa para remover uma rolha de dentro de uma garrafa sem quebrá-la para facilitar os partos difíceis ao reduzir o atrito entre a criança e o conjunto útero-vagina da mãe. Pense em quantas cesarianas serão evitadas e em quantos procedimentos draconianos (como a episiotomia) serão evitados pelo simples fato de alguém ter pensado fora tanto da caixa da cesariana quanto a do fórceps e do extrator a vácuo (que podem deixar sequelas na criança).
Esse cara é o cara. Ganhou meu total respeito simplesmente por ter pensado e agido COMO UM HOMEM faria. Não vou ser ingrato nem preconceituoso, mas vos digo, se fosse pra depender das parteiras, a humanidade ainda ia demorar uns 1000 anos pra poder descobrir algo tão óbvio, se é que fossem.
Interessantíssimo esse texto, pois as guerras sempre falam da culpa dos homens, quase nunca do papel da mulher…